Por que não falar em Educação?

Muito se tem falado em saúde e economia como setores afetados pela pandemia. Outra tragédia vem se configurando, porém em outro setor: a educação. Segundo dados da Unesco, Bain e McKinsey, 1,7 bilhões de alunos ao redor do mundo foram afetados pelo fechamento das escolas; no Brasil serão 52,8 milhões do primário ao ensino superior, das redes públicas e privadas: uma geração inteira prejudicada definitivamente com redução significativa do aprendizado e consequências graves no futuro, que vão desde as faixas salariais que estes alunos vão atingir quando chegarem ao mercado profissional até a entrada no próprio mercado de trabalho nas áreas pretendidas.

Segundo um estudo do Insper – escola de estudos em economia e administração – , quem cursa o ensino médio hoje pode ter uma perda média anual de renda na vida adulta entre 11 a 70 mil reais. Tudo depende da resposta que o setor público dará para recuperar os tópicos prejudicados neste período. Para calcular este impacto, o estudo considerou que a perda média será de um ano letivo. Através de um modelo matemático, projetou-se uma perda ao longo da vida destes estudantes na futura empregabilidade de cada um. Considerando-se o impacto da pandemia nos 35 milhões de estudantes da rede pública (MEC), a perda na economia será de 350 bilhões a 1,4 trilhão de reais (5,3 % a 23% do PIB).

A situação dos professores também é difícil. Pesquisa do Instituto Península demonstrou que 88% não têm experiência anterior com ensino a distância e acima da metade deseja receber ajuda quanto a sua saúde mental. São 2,2 milhões de professores no Brasil, a maioria com mais de 40 anos de idade. Apenas 36% dos professores da rede pública cursaram pós-graduação, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No Brasil, os professores ganham, em geral, 75% da remuneração média de outros profissionais com ensino superior.  

 

Dois outros aspectos merecem destaques: os conteúdos de aulas on-line e o alto índice de evasão do ensino médio para o universitário. Com relação aos conteúdos on-line, é preciso separar categoricamente conjuntos de conceitos aglomerados e transcritos para ditas “plataformas digitais” de aulas criadas especificamente para serem utilizadas neste meio. Embora as atividades presenciais estejam sendo substituídas provisoriamente por aulas remotas, o formato usado é diferente da modalidade EAD (Educação a Distância) tradicional, em que o conteúdo é, na maioria das vezes, assíncrono, autoinstrucional e conta com apoio de tutores. Cerca de 39% dos alunos da rede pública não têm acesso adequado a meios digitais, segundo Centro de Educação para a Educação Brasileira (CIEB)

Finalmente, pesam os índices de evasão escolar do ensino médio em relação à universidade. Entre 2017 e 2028, os índices de evasão escolar nesta fase aumentaram cerca de 1%: de 27,5% para 28,8%. Para 2029-2029 o economista e diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capellato, apresenta uma estimativa de 35%, ou seja, 461 mil alunos devem desistir das faculdades particulares.

Um cenário assombroso que trará consequências sobre toda a comunidade caso ela como um todo não se mobilize para exigir do setor público um choque de gestão com medidas que corrijam ou aliviem essa situação.

*Omar Genha Taha é médico, presidente da Unimed Londrina e especialista em gestão executiva de negócios em saúde.

Referências:

1 – Unesco , Bain e McKinsey

2 – Conselho Nacional das Secretarias de Educação

3 – Instituto Península

4 – Insper, Todos pela Educação e Explora

5 – Revista Exame: “Todos Perdem” 1/07/20

6 – SEMESP

7 – Centro de Inovação para a educação Brasileira (Cieb)

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