Necessidades fisiológicas na trilha: mínimo impacto!

(Foto: Reprodução)

Vamos unir forças para preservar a trilha linda e limpa quando formos fazer nossas necessidades fisiológicas?

Muitas pessoas se sentem desconfortáveis em ir ao banheiro fora de casa e algumas pessoas relutam em usar o “matinho”, isto porque todo mundo procura um lugar limpinho para usar e nem todos deixam o lugar tal qual o encontrou.

Acredito que você já tenha passado por uma situação dessas. Concorda comigo que é extremamente desagradável encontrar fezes humanas e/ou papel higiênico espalhado pela montanha ou trilha?

Isso sem contar que geralmente lindas trilhas e belas paisagens estão inseridas em ecossistemas relativamente frágeis, por isso, dependendo da quantidade de pessoas, o ecossistema não consegue absorver todos os dejetos.

Então vamos lá… Vou dar algumas dicas para você fazer suas necessidades fisiológicas sem culpa, deixando o meio ambiente livre de seus rastros:

  • Procure lugares longe de nascentes e córregos: O primeiro passo é escolher um lugar certo para fazer suas necessidades fisiológicas em uma mata. Escolha um local pelo menos a 60 metros de distância de uma fonte de água ou trilha para preservação da qualidade da mesma e salubridade do ambiente.
  • Reserve o papel higiênico usado: O segredo é levar um saquinho plástico para armazenar os papéis sujos. Não deixe no ambiente exposto e nem enterre, pois torna mais difícil a decomposição dos dejetos. E JAMAIS tente incinerar o papel higiênico, pois você corre o risco de causar um incêndio na mata.
  • Não deixe rastros de dejetos: Não tem coisa mais desagradável numa trilha que pisar em coco! Então dê o destino certo às suas fezes e não as abandone pelo caminho. Vamos dar o exemplo de respeito com a natureza e com nossos colegas de trilha.

Eu sei que para muitas pessoas fazer o famoso “número 2” no mato é quase um tabu, quanto mais carregá-lo. Mas nosso corpo tem um limite de espera, então vamos mostrar aqui que existem algumas técnicas para lhe ajudar a não deixar nossos rastros expostos na mata, sem dispensar (é claro) aquele colega amigo que vai junto para cuidar “da porta” do “banheiro”:

Buracos como instalações sanitárias

Para utilizar essa técnica, você deve observar que o local tenha pouco trânsito de pessoas, muita vegetação e terra preta, mas sem águas por perto. Evite solos arenosos ou de barro, pois a decomposição também é muito lenta. Vou confessar que é difícil usar essa técnica quando a hora certa de defecar chega…

Saiba como fazer:

  • Escolha o local ideal longe de cursos d’água;
  • Cave o buraco de aproximadamente 15 cm. O ideal é carregar consigo sempre uma pequena pá;
  • Reserve a terra retirada para cobrir o buraco depois;
  • Faça suas necessidades fisiológicas dentro do buraco e reserve o papel higiênico utilizado;
  • Com a ajuda de um graveto, misture as fezes com um pouco da terra;
  • Enterre o graveto junto com as fezes;
  • Coloque uma pedra em cima das fezes. Isso para que nenhum animal desenterre e cause prejuízos ao meio ambiente;
  • Feche o buraco com a terra separada e lave bem as mãos em seguida. Legal se tiver aquele álcool gel para passar nas mãos depois!

Banheiro portátil

Para roteiros com vários dias acampando e que se tem uma estrutura de carregadores com grande volume de pessoas transitando nós recomendamos a técnica do banheiro portátil. Já adoto essa técnica em nossos roteiros no Monte Roraima.

Trata-se de uma barraca alta com assento dobrável e sacos plásticos para armazenamento dos dejetos. O uso se dá da seguinte maneira:

  • Coloque o saco plástico na parte central do assento, revestindo todo o assento com o plástico;
  • Coloque uma camada de cal no fundo do saco plástico;
  • Faça suas necessidades fisiológicas, mas somente o “número 2”;
  • Pode usar papel higiênico ou lenço umedecido. Jogue-o junto no saco.
  • Coloque mais um pouco de cal;
  • Amarre o saco plástico deixando o mínimo de ar dentro e coloque ao lado da cabana. Haverá alguém da equipe para fazer o transporte do todo o material.

Poop Tube ou Shit Tube

Participo de vários grupos de discussão e um dos assuntos do momento é o poop tube, ou shit tube ou ainda em claro português “tubo de merda”.

A adoção do poop tube fora do Brasil é muito difundida e por aqui a prática vem ganhando força, tornando-se mais comum em montanhistas mais conscientes.

Recentemente o Parque Nacional do Itatiaia divulgou a necessidade do uso do poop tube (ou shit tube) dos visitantes que fizerem algumas travessias específicas para diminuir o impacto causado por eles.

Mas você deve estar pensando: mas que m&rd@ é essa? O equipamento consiste em um tubo de PVC fechado nas pontas para que o praticante de trekking carregue seus próprios dejetos. Esta prática é necessária em lugares com muito trânsito de pessoas, onde não podemos enterrá-los no caminho.

Se você quer se juntar à nós para deixar o caminho livre de dejetos, aí vão todos os passos para fazer e usar o seu poop tube:

Material para fazê-lo: 1 pedaço de cano de PVC com bitola de 100mm de diâmetro (4″); 2 tampas para cano de pvc de 100mm de diâmetro (4″); 1 anel para vedação de borracha de 100mm; e cola de PVC, 1 cordelete (para fazer uma alça – opcional)

Como fazê-lo: Corte o cano de PVC com um tamanho de 30cm ou do tamanho que melhor se adaptar às suas necessidades ou à sua mochila, lixando as pontas do tubo para dar melhor acabamento. Cole o anel de borracha no fundo da tampa e cole-a em uma das pontas do cano de PVC (esta ficará fixa). Utilize a outra ponta do cano como a tampa.

Como usá-lo:

  • Coloque uma ou duas folhas de jornal no chão e espalhe um pouco de cal em cima;
  • Faça suas necessidades fisiológicas – somente o famoso “número 2” – e pode juntar o papel higiênico utilizado;
  • Coloque um pouco mais de cal por cima;
  • Embrulhe com cuidado o jornal e coloque o conjunto da obra dentro de uma sacola plástica, de preferência biodegradável, retirando o máximo de ar possível antes de fechá-la;
  • Coloque tudo dentro do Poop Tube;
  • Quando terminar a trilha e chegar a um lugar adequado, descarte o conteúdo do tubo.

Pode não ser muito confortável fazer suas necessidades fisiológicas no mato, mas é primordial que se tenha respeito com o meio ambiente e com o homem, que pode ser você mesmo ou um colega de trilha.

Lembre-se que só por estarmos em meio a natureza já estamos causando algum tipo de impacto, mas podemos agir de forma a tornar mínimo esse impacto.

* Ana Wanke é curitibana, engenheira e trabalhou por 20 anos no setor elétrico com projeto de Usinas Hidrelétricas. Em 2012 resolveu realizar um projeto que já vinha elaborando há muito tempo: dar oportunidade a mais pessoas de conectarem-se com a natureza, de maneira mais intensa e em roteiros personalizados. Trocou a carreira de engenheira pela carreira de guia e fundou a empresa Ana Wanke Turismo e Aventura. Especializou-se em caminhadas e no Caminho de Santiago, pelo qual recebeu a honraria de Dama da Ordem do Camino de Santiago em setembro de 2019.

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