Com o Ministério da Saúde, desmembrado do Ministério da Educação, completando 67 anos, o Sistema Único de Saúde completando 32 anos e a Agência Nacional de Saúde Suplementar completando 20, tendo pela frente uma gigantesca prova de resistência para combater a uma “velha nova” doença viral, não há como olhar para trás e avaliar se o trabalho construído nessas décadas foi eficaz.
Entre acertos e omissões, entre a excelente teoria e a execução imperfeita, nossa população envelhece mais, nem sempre melhor. Ilhas de avanço tecnológico contrastam fortemente com precários vazios assistenciais nos bolsões populacionais que carecem de conhecimento. A cesta básica de serviços é propagandeada – e prometida com detalhes de planejamento não executado – como a solução quantitativa que dará conta das necessidades assistenciais. E aí nos defrontamos com a grande perda de oportunidade que os sistemas de saúde, tanto privados como comunitários, perderam historicamente ao não educar para a prevenção.
Saúde se faz, em primeiro lugar, com autocuidado e o autocuidado se faz com conhecimento e responsabilidade. Se nesse final de 2020 nos defrontamos com o recrudescimento e o avanço da pandemia que pensamos estar controlada é porque faltaram atitudes individuais e gestoras para afastar com mais eficiência a doença que apavora, mas que não conscientiza plenamente as pessoas, para que entendam definitivamente que, sem que cada um entenda a consequência das suas negligências, dificilmente essa e outras doenças contagiosas poderão ser objetivamente controladas. Infelizmente, só controladas, porque, por enquanto, não eliminaremos esta COVID-19 como não fomos capazes de eliminar algumas das doenças infecciosas que nos acompanham há séculos como a sífilis e a hanseníase, ou mesmo as “gripes” para citar alguns poucos exemplos. É bem verdade que o avanço científico possibilitou que as controlemos e até curemos alguns casos, mas periodicamente, a acomodação com a rotina que o controle oferece, nos expõem a ciclos de recrudescimento.
Para a atual pandemia, a vacina tão esperada não será a solução completa e é preciso que essa, como tantas outras soluções mágicas que a saúde promete oferecer não nos acomode novamente, almejando que alguma ação “dos outros” seja a melhor (ou a única) forma de resolver nossa necessidade. Considerem-se adicionalmente, dificuldades relacionadas à incerteza da cobertura à população, a temporalidade da imunidade pretendida e obtida, as necessidades logísticas e o financiamento dessa solução.
A higiene, principal, mas não somente das mãos, uso de máscaras e distanciamento são as principais prevenções alardeadas atualmente, mas precisam ainda de mais um ingrediente essencial para serem completamente efetivas: ATITUDE.
Atitude para pensar no coletivo, no próximo a quem efetivamente prezamos e amamos, sem egoísmo e sem hedonismo. A ausência causada pela morte ou a seqüela definitiva de uma pessoa que habita outra casa, outra cidade, outro país pode não nos sensibilizar. Mas, quando a estatística percentual que demonstra que essa pandemia mata menos que outras tantas já havidas, chega na nossa casa, o dado pode ser arrasador: “morreu 100% da minha mãe”, “morreu 100% do(a) meu(inha) filho(a)”, do maior amor da minha vida… “Não consigo respirar bem, mas também não consigo respirador para me auxiliar…”; “porque o doutor não tem agenda para me atender?…”
Atitude individual para o bem coletivo é o que cada um precisa acrescentar na sua cesta básica de saúde. Pensem nisso….
* Marlus Volney de Morais é médico formado pela Universidade Federal do Paraná, com especialização em cirurgia geral, gastroenterologia e endoscopia digestiva atuando em Curitiba, além de integrante da equipe de gestores do portal Saúde Debate
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