Com frequência recebo pessoas com Diabetes frustrados por não conseguir manter o controle da glicemia mesmo tentando cuidar da alimentação. Percebo que a queixa mais frequente é a dificuldade em controlar a vontade de comer alimentos ditos não saudáveis, como pão francês, macarrão, pizza e doces em geral.
É muito comum leigos, profissionais de saúde e postagens na mídia dividir os alimentos em dois grupos: saudáveis (ou permitidos) e não saudáveis (ou proibidos):
– Atribui-se a saudáveis alimentos ricos em fibras, vitaminas e minerais (como vegetais e frutas; pães, arroz e massas integrais; leguminosas); ricos em gorduras mono e poli-insaturadas (azeite de oliva, oleaginosas e algumas sementes) e in natura (encontrados na natureza);
– não saudáveis seriam alimentos com pouca ou nenhuma fibra, ricos em açúcar e fonte de gorduras saturadas e colesterol: como pães com farinha branca, massas, doces, embutidos, frituras, carnes gordurosas e alimentos ultra-processados (salgadinhos, bolacha recheada, refrigerante).
Essa classificação é baseada no efeito que um alimento tem sobre a saúde do homem. Por exemplo, é comprovado cientificamente que pessoas que consomem com mais frequência alimentos in natura, ricos em fibra e gorduras mono e poli-insaturadas tem menor chance de desenvolver doenças como Diabetes, Hipertensão Arterial, Dislipidemia (aumento de colesterol e triglicerídeos) e alguns tipos de câncer. Por outro lado, o consumo excessivo de alimentos considerados não saudáveis aumentaria a chance de um indivíduo desenvolver estas doenças. Importante lembrar que o risco aumenta caso a pessoa tenha predisposição genética, ou seja, tendência familiar.
É possível manter uma alimentação saudável com inúmeros benefícios à saúde, equilibrando o consumo destes alimentos, pois sabemos que é muito difícil uma pessoa ficar completamente sem comer os alimentos ditos não saudáveis.
Com muita frequência ouço de pacientes que tem diabetes: “eu até como pão integral, mas adoro pão francês, então quando me permito como uns 3 a 4 pães”. Outra frase ilustre: “durante a semana eu controlo a vontade de comer, mas no final de semana aproveito e como tudo o que quero”. Outra prática comum em pessoas que “tentam controlar a vontade de comer” é a de beliscar diversos alimentos em curto período de tempo para tentar suprir a satisfação que deixou de sentir ao comer o que queria.
Ajudar a pessoa a identificar e respeitar a vontade de comer é importante para prevenir momentos de exagero alimentar, o que acarreta em prejuízo à saúde. É muito importante que o profissional de saúde, esteja atento a estes relatos, pois se insistir em orientar a restrição de alimentos que proporcionam satisfação ou que fazem parte do ambiente familiar e social poderá favorecer o ciclo “restrição-compulsão-abandono do tratamento”.
Afinal, bom estado de saúde está associado ao bem estar como todo, físico e emocional.
Qual a melhor estratégia para o controle da glicemia respeitando as preferências alimentares de cada pessoa
Existe um método comprovado cientificamente para auxiliar pessoas com diabetes a controlar a glicemia, baseado na distribuição de alimentos fontes de carboidrato (que são alimentos que aumentam a glicemia) de acordo com suas características individuais.
Esta estratégia alimentar leva em consideração a quantidade de alimentos fontes de carboidratos consumidos e não apenas a qualidade do alimento. Este método, chamado contagem de carboidratos, flexibiliza as escolhas alimentares de acordo com a distribuição adequada de carboidratos ao longo do dia e deve ser orientada por um nutricionista especializado em diabetes.
Vou ressaltar duas palavras que escrevi acima: frequência e excesso. Uma alimentação equilibrada e adequada a cada pessoa capaz de proporcionar benefícios à saúde, precisa levar em consideração a frequência de consumo e a quantidade, isso para qualquer alimento.
É importante lembrar que para um bom controle do diabetes, é necessário além de adotar uma alimentação adequada, praticar exercícios físicos regulares e usar a medicação prescrita pelo médico especialista.
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