Sobre Cuidados Paliativos: um jeito humanizado de cuidar

Cuidados Paliativos
(Foto: Pixabay)

Trata-se de uma abordagem diferenciada de cuidados voltada para pacientes e familiares que enfrentam uma doença que ameace a continuidade da vida. São cuidados focados no conforto e alívio de todo e qualquer sintoma. Visam abranger todos os aspectos do ser humano, em sua totalidade física, social, psicológica e espiritual. O foco nessa fase não é mais curativo e sim de prevenção e alívio do sofrimento, na proteção e no cuidado humanizado, gerando maior qualidade de vida aos que enfrentam uma doença crônica ou incurável.

Importante salientar que essa abordagem, essa forma de cuidar, pode e deve ser realizada desde o momento do diagnóstico de uma doença ameaçadora da vida, não somente em estágios onde a morte, por conta do adoecimento, é iminente. O que diferencia é que enquanto na fase de diagnóstico e tratamento o foco também é nas terapias modificadoras da doença, e o intuito é manejar os possíveis efeitos colaterais ocasionados pelas medicações. Enquanto que na fase final os cuidados são exclusivos para o conforto e manejo dos sintomas visando uma boa morte.

O objetivo é sempre proporcionar qualidade de vida ao paciente até o momento final.

Tem-se a falsa ideia de que o paciente em Cuidados Paliativos é aquele paciente em que nada mais se pode fazer. Muito pelo contrário. O que muda é o foco somente, do aspecto curativo para o aspecto do conforto. O cuidado é centrado na pessoa e suas necessidades, não na sua patologia. Há muito o que se pode fazer.

Paciente e família são assistidos, recebendo toda atenção da equipe, porém sem medidas invasivas que possam trazer mais prejuízo do que benefício ao paciente.

Os Cuidados Paliativos são importantes porque entendem a morte como um processo natural do ciclo vital. O objetivo não é “apressá-la” nem “adiá-la”, mas deixar que ela aconteça no seu devido tempo. E os cuidados não se encerram após a morte do paciente. No pós-óbito é dado todo suporte que a família precisar para enfrentar o luto e elaborá-lo da forma mais amena possível. Sendo assim, podemos compreender que pacientes em Cuidados Paliativos e seus familiares ganham e muito quando tem a possibilidade de serem assistidos por uma equipe qualificada e coesa com os princípios dos Cuidados Paliativos.

E quanto mais informação as equipes assistenciais de cuidados à saúde tiverem, mais ações eficazes poderão tomar visando qualidade de vida e bem estar dos pacientes e família.

Em muitos casos, quando a terapêutica curativa não traz mais respostas, o paciente passa a ter indicação de acompanhamento exclusivo da equipe de Cuidados Paliativos. E quando a comunicação está bem alinhada entre equipe, paciente e família, essa transição se dá forma muito natural.

É preciso conversar sobre Cuidados Paliativos desde o início, desmistificando conceitos errôneos, não deixando que decisões importantes tenham que ser tomadas em momentos de estresse, angústia e ansiedade por parte do paciente e familiares.

E conversando abertamente sobre essas questões, é possível fazer sinalizações, tanto para nossa família quanto para a equipe assistencial, sobre as medidas que gostaríamos e as que não gostaríamos que fossem tomadas conosco em caso de agravamento do quadro. É o que chamamos de Diretivas Antecipadas de Vontade.

Isso todos nós podemos fazer em qualquer momento da nossa vida. Comunicar aos que convivem conosco o que não queremos que aconteça em caso de irreversibilidade de um quadro clínico.

Estamos vivendo um momento em que é crescente o interesse por essa proposta de cuidado, onde o foco são as necessidades do paciente e sua família, não a doença.  

As reflexões trazidas pela abordagem dos Cuidados Paliativos nos colocam em contato com nossa própria finitude e com isso passamos a pensar a vida de forma diferente.

A morte não é para ser combatida, mas sim vivenciada de forma natural, como um processo de vida que tem começo, meio e fim.

Compreender Cuidados Paliativos é possibilitar compreender também que a obstinação terapêutica curativa não faz sentido quando o quadro clínico do paciente nos mostra que é preciso seguir por outro caminho.

Cuidados Paliativos proporcionam respeito, dignidade, afeto, atenção e proteção para quem passa por um dos momentos mais sublimes do ciclo vital. Assim como o nascimento, a morte é o marco importante na existência de todos nós seres humanos.

Receber Cuidados Paliativos em fase de finitude da vida é ter a possibilidade de realizar despedidas, de acertar questões não resolvidas, dizer o que nunca foi dito.

Apesar de ainda incipiente no Brasil, o assunto vem ganhando cada vez mais expressividade no meio da saúde. Ainda existem profissionais que não estão familiarizados com o tema, mas é crescente o interesse até mesmo do público leigo. Por aqui o movimento começou da década de 80.

Movimentos para implementação de políticas públicas com relação aos Cuidados Paliativos já estão começando. A ideia é que toda população tenha acesso a esse tipo de cuidado propiciando com isso uma morte digna e bem cuidada.

É importante que haja uma mudança de paradigmas e para isso é necessário que desde os bancos acadêmicos se comece a fomentar a reflexão de que nem sempre a cura será possível, mas o conforto e o alívio dos sintomas sim.

Como dizia Cicely Saunders, uma das mais importantes precursoras do movimento, “o sofrimento só é intolerável quando ninguém cuida.”

Com o aumento da longevidade da população, invariavelmente todos nós em algum momento da nossa existência podemos precisar de cuidados diferenciados quando da nossa velhice em virtude de doenças próprias do envelhecer. Por isso é preciso capacitar cada vez mais os profissionais da saúde, para que prestem um atendimento e cuidado cada vez mais humanizado focado no indivíduo, sua singularidade e sua subjetividade.

Ainda temos pouquíssimos serviços de Cuidados Paliativos no país, muito aquém do que gostaríamos, com a crescente divulgação dos conceitos e o reconhecimento da importância desse jeito diferente de cuidar, a tendência é que caminhos se abram gradativamente. É o que desejamos!

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