Quando se fala em perda, a primeira situação que nos vem à mente, muitas vezes, é sobre a morte de alguém próximo, alguém querido, um familiar, um amigo/a, etc. Acabamos associando perda somente com a morte, quando, na verdade, esse conceito é muito mais amplo e muitas são as perdas que enfrentamos ao longo da nossa vida, ao longo dos nossos dias, na nossa vivência cotidiana.
Uma amizade desfeita, um relacionamento afetivo rompido, um emprego, a saúde, a funcionalidade, a memória, a aposentadoria, a conclusão de um curso, mudança de casa, a juventude. Algumas dessas situações podem nos trazer alegrias e boas sensações, mas também podem nos trazer tristeza e pesar.
Vários são os pequenos lutos que vivenciamos em nossas trajetórias de vida e por vezes não nos damos conta deles com essa significação. Experimentamos perdas cotidianas, isso é certo, sobre isso não temos muito controle. A estabilidade que vivemos hoje pode ser seriamente afetada amanhã, e perdas poderão acontecer.
Sabe-se que um processo de luto é decorrente da ruptura, abrupta muitas vezes, de vínculos com pessoas ou algo extremamente significativo para nós.
Já parou para refletir em quantos lutos você já vivenciou em sua vida? Seja luto pela morte de alguém ou pela perda de algo importante e significativo pra você?
Às vezes nos apegamos a determinadas situações e quando o tempo delas termina sofremos com isso. Um bom exemplo é quando estamos fazendo faculdade. Passamos anos com nossa turma de faculdade, estabelecemos laços com os colegas de turma, com os professores, com a rotina acadêmica, e quando tudo termina fica aquele vazio, gerando angústia, sofrimento, mistura de sentimentos, até que tudo se ajeite novamente e novas rotinas sejam estabelecidas. A alegria da tão esperada formatura se mistura com a tristeza da despedida, e a finalização de uma importante etapa da vida acaba tendo dois sabores.
Mudanças podem trazer perdas, no mínimo daquilo que nos é conhecido e familiar. Adentrar num novo tempo, uma nova situação, outra rotina, pode nos trazer incertezas e inseguranças porque nos tira do conforto daquilo que já sabemos como funciona, ou seja, quando a segurança da nossa zona de conforto é ameaçada, nossos mecanismos de defesa entram em ação.
É importante observarmos como lidamos e enfrentamos as perdas que vivenciamos cotidianamente. Elas são várias e causam diferentes sensações. A cada frustração que sentimos ao idealizarmos alguém ou uma situação, seja ela qual for, da mais singela à mais complexa, algo é perdido ali. Qualquer coisa que saia fora do planejado é uma perda que se instala. Isso é normal acontecer, afinal, quando planejamos algo queremos que saia da forma como imaginamos. Porém se a maneira como reagirmos a isso for desproporcional ao evento em si precisamos parar e olhar para isso.
Comece a perceber como você reage às mudanças e às perdas que acontecem na sua vida, seja no trabalho, em casa, no meio social. Por vezes ficamos tão apegados a determinadas situações que não toleramos qualquer alteração. Sofremos demasiadamente e há um significativo desgaste de energia psíquica nisso.
No entanto, é importante pensarmos que as perdas são necessárias também. Elas contribuem para nosso crescimento, amadurecimento e nosso desenvolvimento pessoal. Sem elas, muitas vezes não saímos do lugar, ficamos na mesmice e não damos oportunidades para novas coisas acontecerem. O segredo é saber lidar com elas, como ressignificá-las que modo a se tornarem positivas, fonte de otimismo, motivação, possibilidade de novas perspectivas, novos hábitos, outras escolhas, novos caminhos, fortalecimento.
Uma vida sem mudanças pode se tornar monótona, impedindo avanços e novas conquistas. Dependo do nosso olhar, uma perda pode também significar um ganho, basta que estejamos abertos/as para isso.
*Jociane Casellas é psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná e atua há mais de 10 anos na área da saúde. Pós- graduada em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Sistêmica, pós-graduada em Psicologia Hospitalar especialista em Psico-Oncologia, com atuação em Cuidados Paliativos. Pós-graduanda em Psicologia Transpessoal e Mestranda em Bioética, além de colunista do portal Saúde Debate
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