O que acontece diante de um diagnóstico difícil

o que acontece diante de um diagnóstico difícil - coluna Jociane Casellas
(Foto: jcomp / Freepik)

Muitas são as reações, sensações, pensamentos e sentimentos quando se está investigando a possibilidade de alguma doença um pouco mais séria.

Medos, anseios, fantasias, ansiedade, preocupação, desespero, angústia, sofrimento por antecipação, podem se instalar já nessa fase.

Muito comum atualmente, e de forma imediata, é recorrermos à internet buscando o significado de algumas nomenclaturas, e sobre os sintomas que estamos apresentando. Dependendo do que nos for sugerido nessas pesquisas já procuramos saber sobre o tratamento, seus possíveis efeitos colaterais e, claro, sobre a curabilidade daquela (suposta) doença.

A partir desse momento até a confirmação (ou não) do possível diagnóstico vivemos uma montanha russa de emoções.

Se o diagnóstico não for confirmado vem o alívio, a sensação de leveza, mas caso seja confirmada a presença de uma doença mais complexa, grave ou crônica o cenário pode se transformar significativamente.

Lidar com a descoberta de uma doença grave ou crônica não é uma tarefa simples, tudo muda repentinamente na vida da pessoa, e da família, que recebe um diagnóstico assim. E pode ser muito traumático dependendo da forma como tudo foi conduzido.

As reações comportamentais e emocionais variam de pessoa para pessoa, afinal de contas cada pessoa é um ser único, traz consigo sua subjetividade, suas crenças, seus valores, suas referências, sua forma de viver e lidar com as situações adversas.

Ao ser confirmado o diagnóstico, é possível que se instale a partir daí um sofrimento mais intenso, pois muitas coisas mudam e podemos ter a sensação de perda de controle sobre nossa própria vida e isso é algo que nos impacta de forma significativa.

Dependendo da situação pode haver uma desorganização das funções psíquicas e a pessoa pode apresentar desde uma falta de reação até uma reação desproporcional frente àquele cenário.

Nesse momento nossas crenças são acionadas, aquilo que temos como verdade, que acreditamos ser incontestável, aquilo que ouvimos, aprendemos e internalizamos como verdade absoluta podem vir à tona. A construção dessas crenças começa desde cedo e vão se fortalecendo com o passar do tempo, mesmo que a vivência de outras experiências mostre o contrário.

Por exemplo: mesmo com os avanços na medicina, na farmacologia, e nas demais áreas da saúde, o câncer ainda é sinônimo de morte e muito sofrimento. Porém os tratamentos evoluíram muito e hoje muita coisa pode ser evitada e melhor manejada. Mas se a pessoa sempre ouviu que todas as pessoas que têm câncer morrem e não acompanhou o avanço da ciência, é nisso que ela vai acreditar.

Vale lembrar que a forma como cada um se posiciona numa situação como essa, pode impactar diretamente tanto na adesão do tratamento como na sua evolução. Alguém com perfil mais ativo e participativo pode ir em busca de informações e orientações, participa ativamente do seu processo de tratamento, pergunta, questiona, busca soluções, toma decisões. Já alguém com perfil mais passivo permite que o outro tome decisões por si, não participa do processo.

Outro ponto importante a destacar é que desde o momento do diagnóstico de uma doença grave ou de manejo mais complexo, sensações e reações de luto podem se apresentar pois algumas perdas são envolvidas nesse processo também. Perda da rotina de trabalho e de estudos, planejamentos futuros precisam ser modificados, perda da autonomia em algumas situações, necessidade de afastamento da vida social por conta dos tratamentos, perda da própria saúde, da liberdade. Muitas coisas precisarão ser adaptadas a partir desse momento.

Por isso da importância do apoio psicológico nesse contexto de adoecimento e tratamentos, auxilia nesse processo de adaptação desse novo momento de vida.

Ninguém quer receber um diagnóstico de uma doença grave, ninguém se programa pra isso, mas pode acontecer com qualquer um de nós.

Se você está passando por um momento como esse, saiba que essas reações são normais e até esperadas pensando nessa perspectiva de mudanças e incertezas.

Não é um momento nada fácil, mas com uma boa rede de apoio, uma equipe multidisciplinar com preparo técnico e humanizado e suporte emocional, a situação pode ser mais fácil de ser enfrentada.

Jociane Casellas é psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná em 2000. Pós-graduada em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Sistêmica (UTP). Pós-graduada em Psicologia Hospitalar (HC-UFPR). Pós-graduada em Psicologia Transpessoal (FIE). Especialista em Cancerologia pelo programa de residência multiprofissional do Hospital Erasto Gaertner e Ministério da Saúde. Mestre em Bioética (PUCPR). Atuante em Cuidados Paliativos. Trabalha na área da saúde tanto na assistência como na docência, com temas sobre morte, luto, humanização, cuidado integral, comunicação em saúde.

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