Certa tarde fria e cinzenta, um garotinho de aproximadamente 8 anos caminhava solitário, pensativo, chutando pedrinhas, numa praça nos arredores de sua casa em uma cidade interiorana.
Pensava em uma maneira de ajudar sua mãe que há meses trabalhava com dificuldade depois que recebera o diagnóstico de uma doença grave e incurável. As fortes dores limitavam sua, até então, agilidade e vivacidade.
Sobre seu pai, pouco sabia. Seus avós moravam distante e já tinham idade avançada. Visitava-os uma vez por ano. Moravam ele, sua mãe e uma irmã mais nova em uma pequena casa de madeira, úmida e pouco iluminada.
Naquele ano não conseguira ingressar no ano letivo. Devido a muitas idas a consultas médicas em localidade distante de onde residiam, sua mãe havia perdido o prazo de matrícula na única escola da cidade e não restara vaga para o menino.
Passavam por dias difíceis, de incertezas, medo, angústia, às vezes até fome e frio.
Queria fazer algo por sua mãe, sempre tão amorosa e dedicada aos filhos, mas não encontrava meios. Sua pouca idade não lhe permitia muitas coisas, fazia o que podia. Ajudava nos cuidados da sua irmã, ia até o armazém buscar pão para o lanche, tirava o lixo, arrumava sua cama, atendia ao que sua mãe pedia. Há dias não brincava.
Uma tia que morava em município próximo, sempre que podia ia para auxiliar no que fosse possível.
Porém, as perspectivas de futuro não eram as mais acalentadoras.
Sua mãe, com o passar dos dias, ia ficando cada vez mais debilitada. Com frequência, o garotinho precisava pedir ajuda aos vizinhos. Ele temia ficar sem ela. Apesar da vida difícil, ela sempre fora seu porto seguro.
Na falta dela ele não sabia onde e com quem iria morar.
Um futuro incerto e sem perspectivas lhe aguardava.
Passados alguns meses sua mãe faleceu. Não houve tempo ou possibilidades para tratamentos. E o que ele mais temia aconteceu. Uma tristeza profunda invadiu seu coração.
Ficara sem rumo, a mercê da decisão e bondade alheia e que lhe dessem abrigo, alimento, proteção, direcionamento, cuidado e amor.
O que seria de sua vida dali pra frente? Tão pequeno e já passando por tantas adversidades… As alternativas não eram das melhores. Não vislumbrava tênue luz ao final do túnel. Tudo que experienciara até então, com exceção do amor de sua mãe, foram momentos de dor e dificuldades.
E nós, quantas vezes nós não passamos por momentos onde parece não haver possibilidade para o sol renascer?
Momentos onde não conseguimos perceber uma réstia de luz sequer no fim do túnel.
Lugares onde não encontramos o mínimo de acolhimento, sensação de estarmos sozinhos na caminhada, uma haste sequer para nos amparar.
Principalmente no momento que estamos atravessando; pessoas perdendo empregos, moradia, condições mínimas para se sustentar, relações que se desfazem, economia indo de mal a pior, vidas que estamos perdendo, despedidas que não se podem realizar, guerras, violência, opressão, adoecimentos. E outras tragédias e histórias de horror que tomamos conhecimento.
Há momentos em que parece estarmos vivendo realmente num mundo escuro, frio e sem sol.
Como reagir? Como enfrentar?
Lembremos de que temos em nós algo chamado resiliência, é o que nos faz seguir em frente. Forças muitas vezes advindas não sabemos de onde, nos impulsionam a seguir na caminhada.
Não duvidemos do nosso potencial de superar momentos difíceis, uns de maneira mais amena, outros nem tanto, mas cada um com a possibilidade de viver e enfrentar os percalços da vida.
Sempre haverá um novo amanhã… E quando amanhecer, que possamos encontrar a direção, o caminho que nos conduzirá novamente ao sol.
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