Dia desses, ouvi uma história que me tocou bastante. Aliás, minha profissão faz com que eu conheça muitas histórias e adentre em diversas realidades e em espaços muito sagrados.
Essa em especial me tocou profundamente. Uma história permeada de muitos sofrimentos, das mais variadas ordens e desde muito cedo.
Ouvi com muita atenção e respeito, acolhi aquela dor que latejava naquele peito.
No final do dia, ao voltar pra casa, aquela história ainda ecoava em mim. Fiquei pensando nas infindáveis realidades que cada pessoa vivencia e que nem sequer imaginamos. Não paramos pra pensar nos mais diversos problemas, nas infinitas dores e nos mais dilacerantes sofrimentos que pode estar dentro de cada casa quando andamos pelas ruas.
Cada pessoa que cruza conosco no dia a dia, seja no supermercado, na farmácia, na padaria e mesmo no trabalho, tem uma história e muitas vezes uma história de muita luta e superação.
Não nos damos conta de quanto sofrimento e histórias difíceis estão por aí nos cercando o tempo todo. E não estão somente nos consultórios, nos hospitais, nas capelas funerárias, nas delegacias, nas periferias, nos tribunais. Podem estar bem ali do nosso lado, mais perto do que imaginamos.
Fico pensando que se em tempos comuns o quão marcantes já são essas dores e percalços, imagino tudo o que ocorre e ocorreu nesses eventos últimos que temos sabido e vivenciado: a pandemia, a destruição da cidade de Petrópolis, os ataques sofridos na Ucrânia. Isso só citando eventos mais recentes.
Ouço diariamente histórias de pessoas que trazem inúmeras marcas e traumas gravados em suas memórias, em sua alma, na trajetória de vida de cada uma delas. Coisas que aconteceram em tempos longínquos e outras recentemente ocorridas.
E todas são importantes e merecem cuidado, porque só quem pode definir o tamanho e a intensidade da sua dor é quem passa por ela.
Tantas são as razões para dor e sofrimento, quer seja por doença, violência, morte, agressão, abandono, guerra, acidentes, perdas diversas, fome, desproteção, pobreza, privação, abuso, racismo, preconceito, discriminação, desigualdade, pandemia.
O que quero deixar aqui como reflexão é para pensarmos que nem sempre a grama verde do vizinho é tão verde quanto parece. Lembrar que grande parte da população vive algum tipo de dificuldade, problemas variados, desafios diários muitas vezes mal interpretados ou que sofrem julgamento.
Como não sabemos a história do outro, o que a pessoa já enfrentou em sua caminhada, o bom seria adotar uma postura solidária e acolhedora sempre que pudermos. Evitar julgamentos deveria ser tão automático quanto respirar.
O que não podemos é perder o senso de humanidade que ainda resta em nós. Embora muitas vezes desacreditemos no ser humano, tantas vezes responsável por grandes atrocidades, que se aproveita da vulnerabilidade alheia, que é obcecado pelo poder, egoísta, perverso e muitas vezes irracional, há ainda aqueles com senso de coletividade, de solidariedade, empatia, sensibilidade e justiça.
Ao olharmos para grama do vizinho, lembremos que pode ter havido ali um longo percurso, que as coisas nem sempre são fáceis, que muitas pessoas enfrentam desafios e lutas diárias.
Mais do que nunca, é tempo de mais sensibilidade e solidariedade! Com os de perto e com os de longe para, no mínimo, não piorar o que já está difícil.
E a sua história, como é?
* Jociane Casellas é psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná em 2000. Pós-graduada em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Sistêmica (UTP). Pós-graduada em Psicologia Hospitalar (HC-UFPR). Pós-graduada em Psicologia Transpessoal (FIE). Especialista em Cancerologia pelo programa de residência multiprofissional do Hospital Erasto Gaertner e Ministério da Saúde. Mestre em Bioética (PUCPR). Atuante em Cuidados Paliativos. Trabalha na área da saúde tanto na assistência como na docência, com temas sobre morte, luto, humanização, cuidado integral, comunicação em saúde.
Confira outras colunas de Jociane Casellas clicando aqui
Conheça também os demais colunistas do portal Saúde Debate. Acesse aqui.