Temos visto ultimamente tantas situações de violência… não que antes isso não ocorresse, ou que houvesse uma diminuição desse comportamento humano nos últimos tempos… mas parece que as coisas andam mais escancaradas do que um dia já foram.
Violência contra a mulher, contra negros, contra crianças, contra idosos, contra animais, contra a natureza.
Tantas opressões, tanta falta de empatia e solidariedade, tanta falta de humanidade e compaixão.
Temos tomado conhecimento de tantas atrocidades, coisas que não combinam com a pessoa, com o ser do século XXI.
Me pergunto se estamos retrocedendo ao invés de evoluirmos.
Temo que isso tome proporções banais a ponto de não nos sensibilizarmos mais quando ouvimos histórias ou fatos ocorridos, seja através da mídia ou de narrativas próximas a nós.
Ouvimos tantas situações de sofrimento que chega ser difícil pensar que certas coisas ainda acontecem nos dias de hoje.
Há tanto sofrimento na humanidade ainda. Por quê?
Vivemos tempos diferentes hoje se compararmos a épocas anteriores, a humanidade já viveu épocas de tantas outras dificuldades, de escassez, de adoecimento por doenças com potencial de curabilidade, porém sem o devido conhecimento. Povos já foram tão oprimidos. Guerras, invasões, falta de condições mínimas de sobrevivência, barbáries.
Hoje, mesmo em meio a muitas dificuldades ainda, podemos observar muitos avanços em vários segmentos, tecnologia, saúde, educação. E no campo das humanidades, o avanço é o mesmo?
O ser humano é um ser com um potencial tão grande para construir pontes uns para com os outros, e ao invés disso parece que vem cavando abismos, cada vez mais fundos.
A compaixão parece escapar-nos por entre os dedos.
Onde estamos errando? Que humanidade queremos em nós?
Não basta termos apenas empatia para com o sofrimento alheio, é preciso termos uma ação em direção a isso, é nisso que se baseia a compaixão. Empatia é sentir, compaixão é fazer.
O sofrimento tem invadido pessoas, a ponto de algumas não darem conta de lidar com tamanhas pressões internas e acabam tomando decisões radicais, e na ânsia de acabar com o sofrimento acabam por dar fim também à vida contida nele.
Vivemos tempos difíceis. Dores, doenças, abandono, desigualdades, incertezas, desemprego, solidão, desesperança, fome, desamparo, violência, pandemia.
Onde está a humanidade que habita em nós? Ou deveria pelo menos habitar.
Quando me refiro a humanidade, quero dizer daquilo que é do humano que habita em nós, o que nos torna humanos, o que nos toca e nos sensibiliza, o que nos faz um ser de emoção e não só razão, um ser que se compadece da dor do outro. Isso só humanos podem fazer e sentir… embora animais se compadeçam também quando presenciam um ser, seja da sua espécie ou não, em apuros. Quanta lição nos ensinam, não?!
Pensando nisso, podemos questionar sobre como estamos educando nossas crianças para que sejam, desde pequenas, sensíveis ao sofrimento do outro. Vemos tantos pequenos reproduzindo hostilidades…
Que conceitos estamos passando e perpetuando para aqueles convivem conosco?
Que sementes temos plantado nos jardins que nos circundam?
Sementes estas que tanto podem ser por atitudes como por narrativas. Alguns de nós, seres humanos, temos a tendência de reproduzir comportamentos sem nos darmos conta disso. Dessa forma vamos perpetuando atitudes e comportamentos bons e ruins.
Por isso da importância de tomarmos consciência dos nossos atos, das nossas ações, das palavras que proferimos e dos conceitos que introjetamos. O automatismo nos faz muitas vezes reproduzir coisas que podem afetar direta ou indiretamente quem está em relação conosco.
A partir dessas reflexões que possamos então ser mais conscientes daquilo que estamos entregando ao outro, que possamos ser mais humanos e sensíveis, que possamos filtrar mais as coisas que chegam até nós, multiplicando somente aquilo que possa de fato promover reverberações positivas.
É o que mais precisamos no momento.
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