A esperança é o sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja. Quem tem esperança confia que uma coisa boa vai acontecer e se sente incentivado a olhar pra frente, por cima da escuridão na qual muitas vezes nos encontramos. E sendo assim, a esperança é uma virtude orientada para o futuro. Ela é tão central que o filósofo Immanuel Kant a colocou entre as perguntas mais importantes da filosofia: o que posso esperar?
Ora, essa espera é um dos dilemas mais terríveis do nosso tempo que, para muitos, é um tempo de desânimo, de frustração, de tédio e de medo, sentimentos que os filósofos costumam resumir na palavra niilismo, um conceito que está associado ao pessimismo e ao mal estar próprios da chamada pós-modernidade. Nesse sentido, falar em esperança é vencer esses pesos e experimentar o fascínio daqueles que nunca deixam de acreditar e fazem da esperança, uma força que empurra adiante, que dá vigor e renova diariamente as energias. Inclusive, é essa potência que mobiliza revolucionários, insurgentes e inconformados ao longo da história que tornaram possível mudar o mundo, desmanchar as amarras e as cercas que impedem de viver e de amar. A esperança é a energia do coração de um Gandhi, de um Martin Luther King, de um Buda e de um Jesus, entre tantos outros.
Ora, bem por isso, temos de lembrar que, na medida em que projeta um futuro melhor, serve de crítica para o presente. Ela é um sentimento de desassossego, que nasce das nossas insuficiências, das nossas faltas, das nossas insatisfações. Quem não tem consciência das dificuldades de seu mundo, passa por aí negando o que está errado e, por isso mesmo, não faz nada para mudar, fica sem esperança. O berço da esperança, nesse caso, é sempre a indignação. Ao contrário do que muitos afirmam, que a esperança levava a um esquecimento do presente, eu digo o contrário: só tem esperança quem conhece o presente, quem afirma aquilo que é no agora, quem está com os pés fincados no mundo que é seu e tem coragem de ver a realidade como ela é.
O filósofo Ernest Bloch, autor de um dos livros mais famosos sobre o tema, O princípio esperança, afirma que esse sentimento aparece nas mínimas atitudes humanas: na busca da alimentação, do vestuário, da habitação, do direito ao trabalho, ou seja, nas coisas que nos mobilizam no cotidiano. É no cotidiano que a esperança nos mobiliza, nos impulsiona: ela é uma espécie de elixir da vida. Por que nós acordamos cedo e vamos à luta? Porque temos esperança! É ela a força que nos faz vencer todos os obstáculos. O futuro, nesse caso, não é uma coisa abstrata. É um compromisso e uma tarefa e sua construção deve ser assumida objetivamente por todos e todas.
Mas devemos ter cuidado: é preciso aprender a dar as razões da nossa esperança (para citar uma passagem bíblica, do primeiro livro de Pedro): a esperança não é tolice, comodismo ou conformismo. Nesse sentido, ela não seria diferente do seu antônimo, que é o desespero. O desesperado e o esperançado que é tolo, sofrem do mesmo mal: eles não acreditam no presente e, por isso, caem facilmente na apatia e na inércia. Essa seria a esperança do verbo esperar e nós aprendemos com Paulo Freire que o importante é a esperança do verbo esperançar. Por isso, precisamos diferenciar esses dois tipos de extremos – que eu considero como perigos iminentes: viver sem esperanças, que é desespero; viver com esperanças desmedidas, que é ilusão. A nossa, minha gente, precisa ser a esperança sensata, pé no chão, cujo fundamento é a coragem e cuja luz vem das estrelas capazes de iluminar os nossos passos. Essa esperança, escrita com sangue, nunca vai deixar a gente se perder no caminho, porque a hora da esperança é sempre agora.
*Jelson Oliveira é Doutor em Filosofia e professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É autor de vários artigos publicados em revistas nacionais e internacionais e de vários livros, além de colunista do Saúde Debate
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