Reza “a lenda”, que a melhor época do ano para subir montanhas vai do mês de maio ao mês de agosto – “os meses do ano que não têm a letra R”. Quem afirmou isso foi um senhor de meia idade, cabelos grisalhos e com a pele queimada do sol, ao nos esbarrarmos no cume do pico do Camapuã, em Campina Grande do Sul, no ano de 2016. Ele, descendo, eu, chegando ao cume.
O pico do Camapuã é uma das montanhas que compõe a cadeia montanhosa da serra o Ibitiraquire, com uma vista magnífica do Pico do Paraná, ao fundo.
Este senhor com quem tive o privilégio de trocar algumas poucas palavras e o número do telefone neste encontro inesperado, é, na realidade, um experiente montanhista, desbravador pioneiro das montanhas paranaenses, o qual, infelizmente, não recordo o nome.
Voltando ao assunto, é certo que as condições climáticas dos dias mais frios e secos favorecem a visibilidade no alto da montanha, além de permitir que o Sol aqueça o corpo na medida certa durante a subida, sem levar à exaustão que é desencadeada pelas caminhadas em altas temperaturas.
Essa é a primeira dica para trilhar em montanha: prefira os dias frios, preferencialmente no inverno.
Outra dica, para iniciantes, é começar pelas montanhas mais baixas, aquelas com trilhas mais curtas até o cume. Nesta dica, falaremos do Morro do Canal, com seus 1.359 metros acima do nível do mar.
O Morro do Canal está localizado no município de Piraquara e faz parte do Parque Estadual do Pico Marumbi.
Seu acesso se dá em uma propriedade particular – a chácara do seu Zezinho.
Saindo de Curitiba, sentido Paranaguá, via BR 277, antes de passar o pedágio São José dos Pinhais, pegue o retorno sentido Curitiba. Vire à direita no primeiro acesso de estrada de terra após o SAU – Serviço de Atendimento ao Usuário (serviço fornecido pela concessionária que administra a rodovia), e você estará no Caminho Trentino dos Mananciais de Piraquara. Siga “reto toda vida” até chegar ao final do primeiro trecho, então, vire à direita, na bifurcação. Daí em diante, é só seguir as placas. Do início do Caminho Trentino ao morro, são aproximadamente 10 km de estrada de chão, em péssimas condições. Só pelas condições da estrada, já valeria a aventura. Ao chegar a um “grande lago”, a represa Piraquara I, se o tempo estiver aberto, ao longe, à direita, será possível observar o Morro do Canal, e outras montanhas da região.
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p class=”ql-align-center”>Caminho Trentino dos Mananciais de Piraquara: estrada que dá acesso ao Morro do Canal (Foto: Arquivo Pessoal)
O local possui uma boa estrutura, com estacionamento, banheiros e lanchonete, além de um pequeno camping, para quem deseja pernoitar. O estacionamento é pago, por veículo.
A trilha até o cume, de dificuldade média, é bem sinalizada e tem duração de aproximadamente 1:30h. Possui diversos obstáculos, alguns deles, com cordas, grampos e correntes, que oferecem certa segurança. Além disso, possui diversas vias de escalada.
Assemelha-se, em diversos trechos, à trilha do morro do Anhangava.
Durante a subida, é possível parar em alguns pontos da trilha para observar a bela paisagem que abriga a montanha, porém, a maior parte do trajeto é dento da mata, onde também é possível contemplar a fauna e a flora da região. Há, inclusive, no terço final da montanha, do lado esquerdo da trilha, uma espécie de caverna, um abrigo; parada obrigatória para fotografias.
Na trilha, é importante atentar para pequenas pontes de madeira instaladas entre fendas de rochas, para evitar quedas e acidentes. Há trechos de terra escorregadios. O trecho percorrido na rocha, contudo, é aderente. De qualquer forma, como em qualquer atividade ao ar livre, toda atenção é necessária.
Do cume do Canal, avistam-se outros cumes, entre eles, o Vigia e a Torre Amarela. Juntas, estas três montanhas formam um circuito que pode ser realizado em um dia, em boas condições. Além disso, pode-se observar a baía de Antonina.
Na face posterior do Canal, é possível descer por uma corda, “no braço”, cerca de 15 metros de altura, por onde a trilha continua rumo à próxima montanha, o Vigia.
Em meus anos de trilha, estive mais de uma dezena de vezes no Canal, sob as mais diversas condições climáticas. Já vi gente “congelar” na primeira parte da descida, nos grampos, sendo necessário muito apoio psicológico e a motivação dada pelos amigos do grupo para tornar a descida possível e com segurança. Por isso, não subestime a trilha do Morro do Canal, embora alguns a tenham como “trilha de principiantes”. Isso não é verdade. Trilhar é uma experiência muito pessoal e cada um reagirá às dificuldades à sua forma e no seu próprio ritmo. Respeite! Seja um trilheiro consciente!
Informe-se sobre as linhas de ônibus que passam pela região do Morro do Canal, partindo de Curitiba e/ou região metropolitana:
Ônibus – 336 VILA RENO (terminal do Centenário/Curitiba)
Ônibus – 463 SOLITUDE (Praça Carlos Gomes/Curitiba)
Ônibus – I20 COLOMBO/SÃO JOSE (terminal Maracanã/Colombo)
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