Para a última postagem de 2020, pensei em algo leve, sublime, uma inspiração e uma lufada de ar no rosto.
Escolhi compartilhar um belo poema que trata do elevado ofício da Esperança, escrito na década de 70, por Thiago Mello. Poema de liberdade, escrito em tempos de ditadura, por assim dizer. Seu Autor expressa, com genialidade e maestria, a maior ânsia da humanidade nos dias de hoje: esperança e aconchego, boas novas e paz.
Desejo que estas palavras sejam bálsamo para o coração exaurido e colírio para os olhos cansados, que elas fortaleçam nossos pensamentos e despertem os melhores sentimentos de um mundo melhor, mais pacífico, mais saudável e mais justo.
Dias melhores virão? Não sabemos, o amanhã não nos pertence. Mas podemos esperar, porque a esperança é a última que morre. E que ela não morra!!! Que nos dias vindouros tenhamos vida, mas, vida em abundância. Nada menos que isso … E que Deus nos abençoe!
Nos vemos em 2021, com novos relatos, novas aventuras, novos aprendizados. Encontro vocês lá! 😉
Estatutos do Homem | Ato Institucional Permanente |
Art.1. Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida e que de mãos dadas trabalharemos todos pela vida verdadeira.
Art.2. Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de Domingo.
Art.3 . Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.
Art.4. Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.
Par. único: O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.
Art.5. Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura das palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.
Art.6. Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto da aurora.
Art.7. Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.
Art.8. Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá a planta o milagre da flor.
Art.9. Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor de ternura.
Art.10. Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida o uso do traje branco.
Art.11. Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.
Art.12. Decreta-se que nada será obrigado nem proibido. Tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.
Par. único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.
Art.13. Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
Art. Final: Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano do engano das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.
Thiago de Mello
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