Afortunados

“Há prazer nas florestas desconhecidas; um entusiasmo na costa solitária; uma sociedade onde ninguém penetra … Amo não menos o homem, mas mais a natureza”. Lord Byron, poeta britânico do século XIX

Sábado preguiçoso do mês de outubro, minha fiel escudeira e eu acordamos bem cedo, pegamos os apetrechos de trilha, como vez ou outra fazemos, e saímos de casa rumo ao Salto da Fortuna, em Morretes. 

 

Reconhecido como “santuário da natureza”, o Salto da Fortuna está sob a jurisdição do Parque Estadual do Pau Oco, administrado pelo Instituto Terra e Água e pertence à Área de Preservação Ambiental(APA) da Serra do Mar.

 

Ficha técnica da aventura

Nível de dificuldade da trilha: “até a minha mãe já fez!!!”

Tempo de caminhada: cerca de 50 minutos.

Atrativos: cachoeira de 50 metros de queda d`água.

Investimento: se te faz sentir vivo, não tem preço!

O que está incluído no pacote: desconectar para reconectar e curtir a natureza.

 

Após um farto banquete visual proporcionado pelas montanhas e toda a flora que margeia a sinuosa Estrada da Graciosa (cujo nome lhe faz a devida justiça!), uma rápida parada para foto na cabeceira da antiga ponte de ferro, de 1912, no município de Porto de Cima, de onde é possível admirar o imponente maciço rochoso que se eleva ao fundo – o fabuloso conjunto Marumbí, um dos principais destinos no Paraná para montanhistas e trilheiros.

Prosseguimos na direção da calorosa e encantadora cidade histórica de Morretes (onde é possível saborear o famoso barreado e o sorvete de gengibre).

 

Passando pela rodoviária de Morretes sentido litoral, alguns metros adiante, à direita, acessamos a Estrada do Anhaia. Cerca de 10 quilômetros adiante, tendo deixado para trás muita poeira, buracos, plantações e algumas cenas pitorescas de moradores da região roçando suas propriedades, ciclistas curiosos, dezenas deles, indo e vindo, com sua indumentária colorida, registrando imagens da região e uma bela igreja de estilo colonial, bem preservada e tendo em sua porta uma imensa árvore, como se fora sua guardiã, chegamos ao nosso destino e … para nossa surpresa e espanto, uma faixa branca com letras vermelhas, cuidadosamente afixada na porteira da propriedade que dá acesso ao Salto da Fortuna, dizia: 

 

“INTERDITADO! Medida adotada em período de pandemia.”

Então, a frase que virou clichê em 2020 foi mais uma vez pronunciada: Que faaaaaaaaaase!!! Que ano, meus amigos! Outra vez, nossa liberdade foi tolhida pelo microrganismo que fechou porteiras e fronteiras do mundo.

 

Enfim… após esta pequena decepção inicial, avaliamos o cenário à nossa volta e nos demos conta de que nem tudo estava perdido. Afinal, estávamos exatamente onde queríamos: longe da civilização, rodeados por montanhas e árvores, céu azul sobre nossas cabeças, gramado verdinho e bem aparado sob nossos pés, um pequeno córrego de águas cristalinas passando ao nosso lado e, para completar, a sinfonia de uma diversidade incrível de pássaros; tudo isso, à nossa inteira disposição do lado de cá da porteira que nos levaria ao Salto. E ali resolvemos ficar um tempo, apenas relaxando, fotografando, molhando os pés e ouvindo o canto dos pássaros brincando em pleno voo.

 

Alguns ninhos chamaram a atenção pelo seu formato peculiar, semelhante a bolsas suspensas. Seus inquilinos, pequenos pássaros pretos de peito vermelho, decolavam e aterrissavam nos ninhos, como num treino de voo. Livres, soltos, canoros; não pareciam preocupados. Isso me fez lembrar novamente um trecho bíblico que fala da providência divina, num mundo onde as flores e as aves não sofrem de ansiedade e tem suas necessidades sempre supridas pelo Deus que as criou. Nesse momento, lembrei que sou dependente deste mesmo Deus que, eu acredito, criou todas as coisas. Senti saudade de poder ignorar a pressa da vida, saudade de ser criança e poder dedicar todo o meu tempo livre para aprender e brincar. Esse momento de contentamento me fez refletir sobre a paz, sobre como é boa a calma. Assim, ficamos alguns minutos deitados na grama apenas contemplando, o que gerou ganhos mentais e físicos muito positivos nos dias seguintes, quando voltamos à nossa rotina.

 

Este é um dos motivos pelos quais eu proclamo com veemência os benefícios do contato com a natureza, das caminhadas em lugares isolados e tranquilos, dos esportes de aventura. A sensação e as reflexões que este tipo de atividade proporcionam a curto prazo são incontáveis. Falando por mim, o contato regular e proposital com a natureza proporcionam maior disposição mental, ampliação da capacidade criativa e cognitiva, inspiração e maior controle sobre o corpo e movimentos.

 

Sou feliz por ter começado a caminhar na natureza em minha juventude e por nunca ter perdido o encanto por este tipo de atividade. Mas, mais ainda, por poder compartilhar minhas experiências antigas e atuais e motivar a outros.

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