Grandes comunicadores da história

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Martin Luther King (Imagem de WikiImages por Pixabay)

Os grandes comunicadores da história, fizeram revoluções, deixaram seus legados através da força dos seus discursos e da competência em saberem se comunicar de forma muito clara e objetiva com seus públicos.

Muito além de falarem bem, os grandes comunicadores da história marcaram época com diferentes formas de se comunicar, seja pelo ideal, pela proximidade, pela espontaneidade ou pela coerência.

Esse post é a primeira parte da série dedicada a contar os detalhes da comunicação de grandes personalidades do mundo moderno.

Martin Luther King: comunicar pelo ideal

Em 28 de agosto de 1963, durante a Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, Martin Luther King Jr. fez seu discurso mais emblemático.

“I have a dream” (Eu tenho um sonho!) ecoou pela capital estadunidense e por todo o mundo como um clamor pelo fim da segregação racial.

A bela oratória do pastor batista da Geórgia, líder dos movimentos pelos direitos civis dos negros americanos, obviamente colaborou para que suas palavras entrassem para a história.

Mas é seu ideal de fraternidade humana que faz com que seu discurso penetre ainda hoje os corações de toda pessoa consciente das injustiças que dividem a humanidade.

 “Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje! […] Com esta fé nós poderemos talhar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade.” Proclamou King nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington DC.

Dr. King, como era conhecido, fez da sua voz o veículo de divulgação do seu ideal. Mais do que isso, deu voz a milhares de homens e mulheres negros não somente nos EUA mas em todos os lugares em que o preconceito racial era a norma, a lei.

Ele gritou por uma multidão e continua sendo porta-voz de todos aqueles que sofrem preconceito e que são excluídos.

É este o legado mais poderoso de quem comunica valores: sua fala não permanece na superfície de quem as ouve, mas cria raízes profundas no coração da humanidade que vive, desde sempre, a luta constante pela vitória do bem, da justiça e da igualdade.

Quem fala assim não comunica simplesmente ao hoje, ao agora, mas abraça com sua fala o amanhã. É por isso que sua voz não pode ser calada, sequer com a morte.

Luther King foi assassinado em 4 de abril de 1968, por um supremacista branco. Quatro anos antes, no entanto, pôde ver assinada a Lei dos Direitos Civis de 1964, que revogou definitivamente a segregação por raça nos Estados Unidos.

Princesa Diana: comunicar pela proximidade

Para a maioria de nós, o mundo dos reis, príncipes e princesas faz parte das fantasias infantis, dos contos de fada. A experiência concreta das monarquias envolveu essas figuras históricas em uma aura de poder e ostentação que as tornou absolutamente inacessíveis aos “meros mortais”.

A humanidade desde cedo entendeu que liderar é uma missão “sagrada”, ou seja, separada das ações comuns, ordinárias. A liderança se destaca entre a multidão e dá a ela um norte, um destino, uma meta pela qual caminhar.

Mas enquanto a liderança é um compromisso nobre, vital, ser um líder traz consigo um dilema fundamental: o erro.

Todo líder é falho, incompleto, mortal e por mais competente que este seja diante de sua missão, em algum momento ele se confrontará com sua própria limitação humana.

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Dela, a limitação, deve brotar então a humildade, a reverência do líder diante desta vocação que lhe ultrapassa e que, em última medida, ele reconhece não ser plenamente capaz de cumprir.

Sabemos, no entanto, que não é assim que as coisas acontecem em geral…

A experiência histórica e da vida cotidiana nos mostra que grande parte daqueles a quem é dado o poder de governar, conduzir e liderar escolhem não o caminho da humildade diante de suas falhas, mas camuflam seus próprios limites cercando-se de símbolos, normas e cortes (bajuladores!) que buscam apresentá-los sempre como infalíveis.

No entanto, os líderes de maior sucesso são  justamente aqueles que vão contra essa lógica.

É o caso de Diana Frances Spencer.

Nascida em uma família de condes da alta aristocracia inglesa e tornando-se princesa de Gales aos 20 anos, Lady Di, como ficou conhecida,  rompeu com os rígidos protocolos da realeza e foi chamada de “princesa do povo”.

Mesmo não sendo a liderança maior do Reino Unido, também ocupada por uma mulher marcante, a Princesa Diana ofuscou os demais membros da monarquia por seu modo próximo, autêntico e carismático de se comunicar.

Sua vida, embora abreviada fatalmente por um acidente automobilístico, deixou uma marca significativa nas últimas décadas do século XX como uma legítima princesa contemporânea. Envolvida em inúmeros trabalhos humanitários, Diana mostrou ao mundo, e mesmo à realeza, que a proximidade e a empatia comunicam muito mais autoridade do que o cetro e a coroa.

Assim, mesmo depois de se divorciar do então príncipe de Gales e perder o título de “sua alteza real”, Lady Di permaneceu para o povo em sua majestade. Pois não há nada mais nobre do que a capacidade de romper as barreiras da soberba e do distanciamento, mostrando-se próximo e disponível a todos que precisarem de sua solicitude.

Carmen Miranda: comunicar pela espontaneidade

Carmen Miranda, a famosa cantora e atriz luso-brasileira, deixou uma marca inesquecível na história do entretenimento. Nascida em 1909, em Portugal, a pequena Maria do Carmo mudou-se ainda no primeiro ano de vida para o Brasil onde não só recebeu o apelido que a imortalizaria – Carmen –   como passaria a ser um dos maiores ícones da cultura popular.

A trajetória de Carmen Miranda começou nas rádios brasileiras, onde sua voz única e seu talento como intérprete ganharam destaque. No entanto, seu carisma logo a projetou para a televisão e o cinema, onde consagrou seu visual extravagante fazendo carreira internacional.

Carmem não apenas cantava, ela se entregava ao ritmo da música de forma apaixonada, dançava com movimentos enérgicos e usava roupas coloridas e exuberantes que refletiam sua personalidade vibrante.

Carmen comunicava espontaneidade e transcendeu os limites da música, tornando-se ela mesma uma manifestação artística completa, um símbolo. Seus gestos e expressões faciais únicas transmitiam uma alegria contagiante, cativando o público por onde passava.

Sua presença marcante produzia uma conexão emocional com seu público de maneira natural e genuína.

Em suas performances, todo o corpo de Carmen era uma forma de comunicação. Seus movimentos ritmados e seu gingado característico adicionavam uma dimensão extra a seu trabalho, permitindo que sua mensagem fosse transmitida não apenas através das palavras, mas por gestos, figurino, caras e bocas, que eram a marca de sua cultura, mas sobretudo de sua própria personalidade.

Ela se comunicava com o público de forma holística, envolvendo todos os seus sentidos em uma experiência única.

Em uma época em que a cultura brasileira era pouco consumida além das fronteiras do país, a pequena notável, como era conhecida, trouxe consigo uma autenticidade que se tornou representativa de nosso país e da americana latina.

Sua comunicação pela espontaneidade permitiu que ela desenvolvesse uma versatilidade que a colocou em contato com diferentes ambientes e frentes de trabalho, abrindo caminho para uma maior apreciação da diversidade cultural.

Hoje, seu legado nos inspira a uma expressividade autêntica e verdadeira, sem medo de mostrar nossa personalidade.

Através de sua música e estilo inconfundíveis, Carmen Miranda nos ensina que a comunicação verdadeira e eficaz alcança o coração das pessoas pela emoção e sobretudo pela autenticidade, pois comunicar é também imprimir uma marca genuína de quem se é.

Francisco de Assis: comunicar pela coerência

“Belo discurso! Pena que te conheço…”

A frase acima já foi dita, ou pelo menos pensada, por muitos de nós em diferentes circunstâncias. Ela expressa, talvez, o grande “calcanhar de Aquiles” da comunicação: a prova da coerência moral.

Ainda que um discurso seja eloquente, elegante, arrojado, bem produzido e teoricamente fundamentado, sua consistência desmancha-se como nuvem no céu quando seus interlocutores são capazes de mapear a inconsistência moral de que o pronuncia.

De fato, poucas coisas desqualificam tanto a comunicação de um líder, um profissional ou qualquer tipo de autoridade, como a hipocrisia flagrante ou a incoerência entre atos e palavras.

É por isso que, ao longo da História, figuras simples e talvez até pouco eloquentes tornaram-se notáveis e grandiosas, ocupando no panteão das grandes personalidades humanas um espaço de destaque.

Mais do que seus discursos ou escritos, homens e mulheres de todos os tempos passaram a ser louvados por sua profunda coerência de vida, sua simbiose perfeita entre valores e ações. O jovem Giovanni di Pietro di Bernardone da pequena cidade de Assis, na Itália, foi uma dessas figuras.

Nascido em 1181 (ou 1182) Giovanni tornou-se mundialmente conhecido por outro nome, Francisco, e mais tarde pelo título que expressa sua importância como líder espiritual: santo.

Personagem notável do cristianismo medieval, São Francisco de Assis destacou-se não por escritos ou ensinamentos acadêmicos, como outros santos católicos, mas por sua profunda coerência entre suas palavras e ações, refletindo uma vida de humildade, amor fraterno e dedicação aos mais necessitados.

Ainda na juventude, Francisco sente-se marcado por uma experiência mística que o impelia a “reconstruir a Igreja”. Esse apelo interior, interpretado inicialmente de modo bastante literal, leva o burguês de Assis a iniciar a reforma física de uma pequena capela abandonada das redondezas.

Mas a obra que Francisco era chamado a fazer estava muito além do restauro material das paredes de um templo. De fato, com seu estilo de vida despojado, Francisco opera no opulento catolicismo da época uma profunda mudança de paradigma, tornando-se um sinal vivo da contradição em que a Igreja e seus líderes viviam diante dos ideais de Cristo.

Convencido de que Deus o chamava a ser esse testemunho vivo da pobreza e simplicidade de Jesus, Francisco começou a viver uma vida de renúncia radical abrindo mão da posse de todo e qualquer bem material.

De fato, sua família era de ricos comerciantes locais e, ao ser questionado por seu pai sobre os privilégios familiares que usufruía, Francisco devolveu-lhe inclusive a roupa do corpo, ficando nu em praça pública. Sua coerência se manifestava no fato de que ele não apenas pregava a pobreza, mas a vivia plenamente, compartilhando a vida dos menos afortunados e dedicando-se a cuidar dos doentes, leprosos e marginalizados.

Ele se aproximava das pessoas com compaixão e amor, tratando-as como irmãos e irmãs, independentemente de sua condição social.

A coerência de São Francisco de Assis não era superficialidade performática, mas brotava de uma profunda espiritualidade. Por isso, já em vida, atraiu diversos outros jovens, homens e mulheres, dispostos a viver sob sua inspiração buscando a radical harmonia entre os valores morais mais elevados e sua prática cotidiana.

Francisco era um homem de diálogo e sem dúvida um grande comunicador, mas seu trunfo primordial estava no seu modo de agir.

A ele se atribui uma frase que, mesmo fora do aspecto religioso, nos leva a refletir sobre a importância de termos hábitos e comportamentos condizentes com os valores que comunicamos: “tome cuidado com seu estilo de vida, pois talvez ele seja o único evangelho que as pessoas lerão.”

É preciso sempre lembrar: o primeiro discurso que chega às pessoas que convivem conosco é aquele que brota de nossas atitudes, não de nossa boca.

A boa fala é cativante, mas o discurso que encontra aderência à vida concreta de quem o pronuncia é transformador. Essa é a diferença profunda e fundamental entre alguém que “fala bem” e o autêntico comunicador.

Cida Stier há mais de 30 anos estuda, pesquisa e trabalha com Voz Profissional e Comunicação em Público e no Vídeo. Fonoaudióloga, formada pela PUC-PR, mestre em Distúrbios da Comunicação pela UTP-PR, doutora em Administração em Neuromarketing, FCU-FL, especialista em voz pelo CEV-SP, pós-graduada em Distúrbios da Comunicação, em Educação Especial na PUC-PR, com MBA em Comunicação e Marketing Unicuritiba-PR. E também é colunista do portal Saúde Debate.

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