Fakenews na saúde: este mal tem remédio?

*Andre Pereira Neto e Rodolfo Paolucci

A Internet permite que o cidadão acesse uma quantidade incomensurável de informação, mesmo se ele tiver pouca habilidade para manipular dispositivos eletrônicos e baixo poder aquisitivo para adquiri-los. Além de acessar, ele pode produzir, compartilhar e disseminar informação para qualquer pessoa, a qualquer hora e de qualquer lugar. Por essa razão, diariamente, são produzidos e disponibilizados novos sites, blogs, páginas e facebooks sobre os mais variados temas e problemas.

A saúde é um dos temas mais acessados, postados e compartilhados na Internet. O “Comitê Gestor de Internet no Brasil” (https://cgi.br), órgão interministerial do governo federal, realiza periodicamente pesquisas nacionais para acompanhar a expansão da Internet em nosso país. A pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros, publicada em 2018,  indicou que a busca por informação e serviços de saúde como agendamento de consultas, remédios ou outros serviços do sistema público de saúde está entre as cinco áreas que despertam maior interesse dos internautas brasileiros, independente da renda, grau de instrução e região do país em que residam.

Contudo, quem produz a informação de saúde? Graças à liberdade inerente à Internet, qualquer pessoa pode produzir informação. Na saúde, podemos encontrar ambientes virtuais construídos por instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa, agências governamentais e não governamentais, associações de pacientes e de profissionais e pelos próprios indivíduos. Essa possibilidade permite que a informação seja postada e compartilhada sem qualquer tipo de avaliação. Tal condição possibilita que seja disponibilizada informação incompletas, contraditórias, incorretas ou até fraudulentas frequentemente: As Fakenews da Saúde! Existe remédio para este mal?

Algumas instituições têm se dedicado a orientar os usuários a não cair na cilada das Fakenews. Uma delas é o DISCERN (www.discern.org.uk): Uma iniciativa Divisão de Saúde Pública e Atenção Primária à Saúde do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Eles oferecem um breve questionário com 15 questões objetivas que fornecem aos usuários uma maneira de avaliar a qualidade da informação sobre a publicação e sobre as opções de tratamento disponíveis em ambientes virtuais.

Uma das perguntas orienta o usuário a verificar se o site apresenta as fontes para a informação disponibilizada. A ferramenta oferece uma escala que vai de não – que vale zero ponto; passando por parcialmente – que vale 3 pontos; até sim – que vale 5 pontos. Ao final o usuário soma os pontos obtidos com a resposta das 15 perguntas e tira uma média que indicará se o ambiente virtual de saúde possui deficiências graves importantes, mas não sérias ou mínimas.

Apesar de ser uma iniciativa importante e muito utilizada no Mundo a ferramenta do DISCERN não se preocupa com o qualidade do conteúdo da informação e nem com sua legibilidade. Além disso, ela delega ao cidadão, e não ao poder público, a função de avaliador. O DISCERN é um remédio que não cura, pois não identifica se a notícia é falsa ou não. Ele apenas previne este mal, pois nos orienta a não acreditar em informações que não tenham autoria e não estejam documentadas.

* Andre Pereira Neto e Rodolfo Paolucci são pesquisadores do “Laboratório Internet, Saúde e Sociedade”, Centro de Saúde Escola Germano Sinval de Faria da Escola Nacional de Saúde Publica da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

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