A responsabilidade compartilhada: realidade ou aparência?

(Foto: Pixabay)

Como é comum, os assuntos mais polêmicos tomam conta dos realitys e ultrapassam os limites destes, tomam também as redes sociais e provocam grandes discussões.

Em temporada de BBB (Big Brother Brasil), a entrada do participante Pedro Scooby, pai de três filhos pequenos, dos quais possui a guarda compartilhada, foi assunto na última semana. Pedro deixou os filhos para passar três meses confinado e participar do reality, a mãe irá dividir a responsabilidade em relação aos filhos com a atual esposa do pai de seus filhos.

Entre tantas especulações sobre os cuidados com as crianças, filhos de Pedro Scooby, a mais comentada é a conduta da mãe, a atriz Luana Piovani, em questionar a atitude do seu ex-marido. A vida particular do casal e seus filhos se tornou pauta para discussão e provocou todo tipo de opinião. E, sem surpreender, a mãe ficou com o papel de vilã nessa história da vida real.

Ainda que paradoxal, é comum que as pessoas entendam as atitudes do homem em relação à sua família e, principalmente, em relação aos seus filhos, já que é comum e bastante aceitável, cultural e socialmente, que o homem priorize seus projetos pessoais. A disponibilidade do homem para o trabalho, para o entretenimento, para a sua individualidade, é alguma coisa inquestionável, ao contrário do que ocorre com a mulher.

A mulher, nesse contexto familiar e de maternidade, passa a viver um eterno plural, ou seja, ela jamais se dedicará à sua individualidade sem que haja cobranças, culpa e julgamentos. E sempre que decidir por dedicar-se a algo que não seja sua família e seus filhos, ela assumirá mais responsabilidades, dificilmente dividirá ou compartilhará as que já tem, seguirá acumulando funções.

Nesse acúmulo de funções, a mulher, muitas vezes, repensa seguir com seus projetos, já que sobrecarregada pode não conseguir atender a tudo e a todos na forma como se espera e como gostaria – assunto para outro artigo -.

Nesse contexto, a mulher não consegue estar no mesmo patamar que os homens, nem mesmo naquelas situações reguladas por lei, como é o caso da responsabilidade na guarda compartilhada dos filhos. Não que não seja possível a exceção, é possível. O que chama atenção é a aceitação em relação ao comportamento do pai e a dificuldade que as pessoas encontram em ter a mesma aceitação em relação à mãe.

Equilíbrio e igualdade não são e não devem ser buscados somente para mulheres, ao contrário, são e devem ser efetivos para todos. É nesse ponto que devemos refletir sobre nossas ações e reações em relação a nossos comportamentos no nosso meio familiar e social. Como reagimos em relação a essas escolhas das pessoas próximas e qual o apoio damos? Qual o peso e qual a medida? Consideramos a divisão honesta e justa de responsabilidades?

Não se trata, então, de defender mulheres em detrimento de homens, mas sim de equilibrar direitos e obrigações, e que ambos possam dedicar-se igualmente a sua vida privada sem deixar de conviver, planejar e realizar.

* Viviane Teles de Magalhães Araújo é advogada com atuação no mercado corporativo nas áreas cível e trabalhista; Mestra em Direito (Direitos Fundamentais Coletivos e Difusos), Especialista em Direitos Humanos e Questão Social, MBA em Direito Empresarial, Especialista em Direito e Processo do Trabalho. Autora do livro “Mulheres – Iguais na Diferença” e do artigo “A igualdade de direitos entre os gêneros e os limites impostos pelo mercado de trabalho à ascensão profissional das mulheres”, além de colunista do Saúde Debate

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