A quarentena nos impôs uma crise do espaço público: de um dia para o outro, fomos trancados em casa e chamados à responsabilidade diante do avanço do vírus. A medida, embora não agrade a quase ninguém, é a única efetiva para evitar um colapso do sistema de saúde. Nossa vida social foi interditada, os abraços e toques proibidos, as reuniões e encontros suspensos e adiados. Não fosse pela tecnologia de informação, nosso isolamento teria alcançado índices insuportáveis.
Enquanto ainda estamos atravessando a pior parte da calamidade, somos convocados a tirar aprendizados e, sobretudo, a redesenhar as nossas vidas. Trata-se, sobretudo, de entrar na disputa de narrativas sobre o futuro, participar efetivamente e influenciar positivamente na construção desse novo tempo e das novas condições que virão. Não podemos sair dessa dor tão profunda sem aprender com os erros do passado. Não podemos mais voltar ao “normal”, porque o modo como vivíamos mostrou claramente que não poderia ser considerado como tal. Não era normal a pressa, a ansiedade, a desigualdade social, a emergência climática e o consumismo.
Se o individualismo exacerbado era uma das marcas nefastas da nossa vida cotidiana, fechando cada um de nós no seu quadrado, a volta da vida social deve ser acompanhada do florescimento de uma nova identidade coletiva, que substitua as atitudes anti-públicas e anti-estatais que eram tão comuns entre os cidadãos contemporâneos. O único jeito de participar efetivamente da construção das alternativas futuras, é re-politizando as nossas vidas. Precisamos reocupar os espaços públicos, assumir causas e militâncias a favor daquilo que é central para que nossa humanidade seja plena.
Então… Tenha uma causa! Há muitas: um dia sem carne, um dia sem carro, a defesa dos animais, a participação em uma ONG, uma ação de solidariedade, participe das reuniões do condomínio, adote uma praça, um canteiro, uma planta que seja; ajude uma criança, adote uma criança, visite os idosos, lute contra a desigualdade, a favor dos indígenas e pelos direitos humanos; vote bem e participe dos mandatos de seus candidatos; candidate-se! Encontre a sua causa. Qualquer uma.
Boas causas farão a diferença para que o futuro não seja decidido pelos tecnocratas de sempre. Anime seus alunos, amigos e familiares a fazerem o mesmo. Só assim daremos novo sentido à nossa vida e todas as vidas perdidas de agora serão homenageadas com a continuidade de um projeto social que contribua para a vida plena, o bem viver, a felicidade. Não podemos sair disso tudo sem aprender a “cruel lição do coronavírus”.
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