O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima 16.590 novos casos de câncer de colo de útero entre 2020 e 2022, conforme levantamento publicado em fevereiro deste ano. O risco previsto é de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres no país. A doença é causada pelo HPV, o papilomavírus humano, e detectada por um exame chamado Papanicolau.
Ainda de acordo com os dados do INCA, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o segundo mais incidente nas Regiões Norte (21,20 casos a cada 100 mil mulheres), Nordeste (17,62/100 mil) e Centro-Oeste (15,92/100 mil). Já na Região Sul (17,48/100 mil), o câncer de colo de útero ocupa a quarta posição entre os tipos de cânceres que acometem as mulheres. Na Região Sudeste, com um risco estimado de 12,01 casos a casa 100 mil mulheres, este tipo de câncer está na quinta posição.
O câncer de colo de útero pode levar à morte, caso não seja diagnosticado cedo e tratado. Conforme dados do INCA, no Brasil, em 2017, foram 6.385 mortes.
Causas
O câncer de colo de útero é causado por alguns tipos de HPV, cujas alterações podem evoluir para um tumor. No entanto, elas podem ser descobertas no chamado exame preventivo, ou Papanicolau, feito durante o acompanhamento com profissionais da saúde. O teste sempre é realizado na visita ao médico ginecologista, o que aumenta as chances de identificação de qualquer problema. Por isto, acesso ao serviço de saúde, um sistema de qualidade e informação são essenciais em uma situação como esta.
“O HPV é a principal causa do câncer de colo de útero. Mas não ele não causa apenas esse tipo de câncer. Por isso, pode afetar também os homens. O HPV é responsável pelo câncer de boca, laringe, língua e pênis”, alerta o médico oncologista Bruno Roberto Braga Azevedo, cirurgião do Hospital São Vicente, em Curitiba (PR), e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) – regional Paraná.
Vacina contra o HPV
A principal forma de transmissão do HPV é via relação sexual. Por isso, a proteção com camisinha, nesses casos, se torna essencial, além do que ajuda também na prevenção contra outras doenças. Paralelamente, existe a vacina contra o vírus, que deve ser feita, preferencialmente, na pré-adolescência. Na rede pública de saúde, a vacinação está disponível para uma faixa etária específica, tanto para meninas quanto para meninos. “Ela deve ser feita, em duas doses, em meninas de nove a 14 anos e em meninos entre 11 e 14 anos. A ideia da vacinação contra o HPV é que ela ocorra antes dos 15 anos porque acredita-se que a resposta é maior do que vacinar um adulto”, indica Azevedo. Um adulto que queira tomar a vacina pode fazer isso. No entanto, vai encontrar a imunização apenas na rede privada.
Segundo Azevedo, a vacina protege contra quatro subtipos de HPV. Por isso, eventualmente, pode acontecer de uma mulher coletar o material para o exame do Papanicolau e apresentar alguma alteração para o vírus, mesmo vacinada. Entretanto, não seria o tipo de HPV que causa câncer de colo de útero. De qualquer maneira, seria um caso a ser acompanhado pelo médico responsável. “O exame preventivo é essencial. O câncer de colo de útero só pode ser visto em estágio inicial com o Papanicolau. Os primeiros sintomas, que são sangramento, dor e infecção só acontecem em estágio avançado. E, nesses casos, o comprometimento pode ser grande, a paciente pode não ser mais elegível para uma cirurgia, por exemplo”, comenta.
Papanicolau e tratamento
O Papanicolau deve ser feito uma vez ao ano, para quem tem resultados normais. As mulheres que apresentaram alguma alteração devem fazer o exame a cada quatro ou seis meses, dependendo do caso. “Uma alteração no Papanicolau sugestivo para HPV não significa câncer. Uma alteração simples não significa que seja”, salienta Azevedo, enfatizando a necessidade do acompanhamento médico.
Caso o vírus seja detectado, é feito o controle com a coleta de novos exames, além do que for indicado pela equipe médica. Se o diagnóstico for câncer de colo de útero, o médico responsável verifica se o caso é passível para uma cirurgia, para a retirada do tumor, ou se a quimioterapia e radioterapia são necessárias. Essas últimas condições caracterizam uma doença avançada. “A janela entre a doença ser cirúrgica ou não é muito curta, diferente do que acontecem em outros órgãos do corpo”, indica o cirurgião do Hospital São Vicente e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) – regional Paraná.