Embora proibido no Brasil desde 2009 pela Anvisa, o uso de cigarros eletrônicos continua crescendo entre os jovens. Cerca de 1 a cada 4 brasileiros entre 18 e 24 anos já utilizaram esses dispositivos ao menos uma vez, segundo dados da pesquisa Covitel 2023. Essa realidade alarmante reflete a necessidade urgente de conscientização sobre os perigos que os cigarros eletrônicos representam, especialmente no ambiente escolar, onde se pode combater diretamente a desinformação que circula entre os adolescentes.
Um dos principais fatores que impulsionam o consumo é a falsa crença de que os cigarros eletrônicos são menos prejudiciais do que os cigarros convencionais. No entanto, a maioria desses dispositivos contém nicotina, uma substância viciante, além de diversos outros compostos químicos, como o propilenoglicol e solventes, conhecidos por seus efeitos nocivos à saúde. O uso desses dispositivos pode, inclusive, servir como porta de entrada para o uso de cigarros tradicionais e outras drogas, o que é particularmente preocupante diante do aumento do consumo entre jovens em idades cada vez mais precoces.
Colaboração entre escolas e famílias
No caminho para a conscientização e combate ao uso de cigarros eletrônicos, escolas e famílias têm um papel central de responsabilidade. O diálogo aberto entre professores, pais e jovens, utilizando uma linguagem adequada para cada faixa etária, é de extrema importância para esclarecer os perigos associados ao uso, ainda que esporádico, desses dispositivos.
O foco é mostrar claramente seu funcionamento, os efeitos colaterais e os danos à saúde de forma geral, mas, em especial, à saúde dos pulmões e vias respiratórias. É preciso ressaltar que os danos não são imediatos, e sim que ocorrem em médio e longo prazo, mas com um impacto direto no desenvolvimento físico, mental, emocional e social dos adolescentes.
Nas escolas, estratégias educativas eficazes podem ser desenvolvidas por equipes pedagógicas, com a colaboração de profissionais da saúde como pediatras e psicólogos. Para além de palestras de conscientização, é importante promover discussões interativas e trabalhos em grupo, em que os estudantes possam refletir e se posicionar sobre o tema, contribuindo ativamente para seu entendimento.
Isso porque um dos maiores desafios enfrentados no combate ao uso de cigarros eletrônicos é a desinformação e os mitos que circulam entre os jovens. Muitas vezes, adolescentes e até mesmo suas famílias desconhecem os danos graves que esses dispositivos podem gerar.
Assim, para que a conscientização seja integrada a iniciativas mais amplas de promoção da saúde, é fundamental que as escolas desmistifiquem os possíveis efeitos benéficos (que não existem) e a sensação de bem-estar que os cigarros eletrônicos poderiam promover, apresentando informações atualizadas e baseadas em estudos que evidenciam os danos à saúde, incluindo problemas pulmonares irreversíveis e o risco de dependência química. Ao tratar esses temas de forma integrada, as escolas podem contribuir para o desenvolvimento de cidadãos mais conscientes e preparados para tomar decisões informadas sobre sua saúde.
A tecnologia como aliada
A tecnologia também pode ser uma aliada na conscientização. Redes sociais e plataformas digitais são canais de comunicação eficientes para alcançar o público jovem e disseminar informações corretas sobre os perigos do cigarro eletrônico. Campanhas educativas que utilizam a linguagem e os meios de comunicação preferidos pelos jovens podem gerar um impacto mais significativo, ajudando a criar uma cultura de prevenção.
Em um cenário onde 70% dos usuários de cigarros eletrônicos no Brasil são adolescentes e jovens adultos entre 15 e 24 anos, sendo a maioria meninos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, é essencial que escolas e famílias estejam alinhadas na tarefa de educar e conscientizar.
Desta forma, somente com um esforço coletivo será possível proteger os jovens dos graves riscos à saúde que o uso de cigarro eletrônico pode causar, garantindo que a educação cumpra seu papel de promover o bem-estar e o desenvolvimento integral dos estudantes.
*Por Maria Cecília Rocha Lessa