A transformação digital que vem ocorrendo no setor de saúde nos últimos anos impõe um desafio crucial: a necessidade de atualização constante dos profissionais de saúde. Com o avanço acelerado de tecnologias como telemedicina, inteligência artificial, e registros eletrônicos de saúde, tornou-se imprescindível que médicos, enfermeiros, gestores e outros profissionais adquiram novas competências para lidar com essas ferramentas que estão redefinindo a maneira como os cuidados são prestados.
Essa demanda por capacitação não surgiu de forma gradual; pelo contrário, foi intensificada pela pandemia de Covid-19, que forçou uma migração rápida para plataformas digitais. De um momento para outro, muitos profissionais se viram obrigados a adotar ferramentas digitais sem o preparo necessário, evidenciando uma lacuna significativa na formação e desenvolvimento contínuo desses profissionais. De acordo com estudos recentes, 80% dos profissionais de saúde participaram de programas de treinamento em tecnologia digital nos últimos dois anos, refletindo um esforço considerável para se adaptar a essa nova realidade. No entanto, ainda há muito a ser feito.
A necessidade de se tornarem proficientes em tecnologias digitais é apenas a ponta do iceberg. Profissionais de saúde precisam agora integrar essas inovações em seu fluxo de trabalho, o que implica não apenas aprender a usar novas ferramentas, mas também entender como elas podem melhorar o atendimento ao paciente e a eficiência operacional das instituições de saúde. Ferramentas como a telemedicina, por exemplo, que viram um aumento de 53% em sua utilização desde o início da pandemia, exigem conhecimento técnico e adaptação que vão além da prática médica tradicional.
No entanto, essa adaptação enfrenta barreiras significativas. A falta de mão de obra especializada em tecnologias de saúde é um problema crescente. Com a rápida evolução da tecnologia, manter-se atualizado tornou-se um desafio constante. Muitos profissionais de saúde não recebem treinamento adequado ou contínuo, o que limita sua capacidade de utilizar essas tecnologias de forma eficaz. Isso é exacerbado pela escassez de profissionais com expertise em TI e gestão de projetos, áreas críticas para a integração bem-sucedida de novas tecnologias nos sistemas de saúde.
Essa escassez não só afeta a implementação de novas tecnologias, como também impacta diretamente a qualidade do atendimento ao paciente. Profissionais que não estão devidamente capacitados para utilizar tecnologias como inteligência artificial ou ferramentas de análise de dados não conseguem oferecer os cuidados personalizados e eficientes que essas inovações prometem. A American Medical Informatics Association (AMIA) destacou que a demanda por especialistas em informática médica está crescendo mais rápido do que a oferta, o que só aumenta o desafio de capacitar adequadamente a força de trabalho na saúde.
Para enfrentar esses desafios, é essencial que o setor de saúde invista em programas de capacitação contínua e desenvolvimento profissional. Iniciativas como o curso de boas práticas de telemedicina e telessaúde, oferecido pela Saúde Digital Brasil em parceria com a Med.IQ Academy, são fundamentais para equipar os profissionais de saúde com as habilidades necessárias para navegar neste novo cenário digital. Esses programas não só ajudam a preencher a lacuna de conhecimento, mas também garantem que a adoção de novas tecnologias seja feita de maneira segura e eficaz, beneficiando tanto os profissionais quanto os pacientes.
Além disso, a inclusão de disciplinas voltadas para a saúde digital nas grades curriculares das universidades é crucial para preparar a próxima geração de profissionais de saúde para os desafios futuros. A educação, portanto, emerge como o principal pilar para garantir que a transformação digital na saúde seja acompanhada por uma força de trabalho capacitada, capaz de utilizar as novas tecnologias de forma eficaz e segura.
Ou seja, a transformação digital na saúde não pode ser bem-sucedida sem a capacitação contínua dos profissionais que operam nesse setor. A tecnologia por si só não é suficiente; o conhecimento e a habilidade dos profissionais em utilizá-la determinarão o verdadeiro impacto dessas inovações no cuidado ao paciente e na eficiência dos sistemas de saúde. Portanto, investir em educação e treinamento não é apenas uma necessidade; é uma urgência que precisa ser atendida para podermos colher os frutos de uma saúde digital realmente transformadora.
*Michele Alves é gerente executiva da Saúde Digital Brasil
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