Mudanças climáticas e o aumento dos casos de dengue: o que esperar e como enfrentar?

dengue
(Foto: jcomp/Freepik)

É julho, e o Brasil se aproxima dos 6 milhões de casos de dengue confirmados em 2024. Mas a dengue, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, não é exclusividade nossa – ela representa uma séria ameaça à saúde pública em todo o mundo, afetando uma grande parcela da população global, e com casos em constante aumento nas últimas cinco décadas. No ano inteiro de 2023, o número total de casos no Brasil foi de 1.6 milhões.

Esse aumento está fortemente relacionado às mudanças climáticas. A temperatura média global subiu 1°C nos últimos 100 anos, impactando diretamente o ciclo de vida dos mosquitos. Temperaturas mais altas aceleram seu desenvolvimento e reduzem o tempo de incubação do vírus, aumentando a taxa de transmissão. Esse aquecimento também amplia a distribuição geográfica da espécie – locais antes muito frios começam a ser colonizados pelo Aedes aegypti.

Com os termômetros a 25ºC, um ovo leva, em média, duas semanas para se transformar em mosquitos adultos. Testes feitos em laboratório mostram que esse tempo cai pela metade quando os termômetros sobem para 28ºC – o que aumenta e muito a quantidade de mosquitos em circulação e as picadas.

A influência das chuvas também é preponderante nesse cenário. Enquanto as chuvas intensas podem eliminar ovos e larvas de mosquitos a curto prazo, a água acumulada cria novos locais de reprodução a longo prazo. Enchentes podem ativar uma grande quantidade de ovos de maneira sincronizada, resultando em grandes infestações. Por outro lado, em climas secos, a água armazenada em recipientes se torna um ambiente propício para a reprodução dos mosquitos. Essas variações climáticas afetam diretamente a ecologia do vírus e do vetor, desempenhando um papel crucial na transmissão da dengue.

Estudos indicam que as mudanças climáticas estão expandindo a distribuição geográfica de doenças transmitidas por mosquitos, incluindo a dengue. A combinação de temperatura, precipitação e umidade relativa tem sido associada a surtos da doença. Modelos preditivos baseados em dados climáticos são essenciais para entender essas relações e mitigar os impactos nas comunidades.

De acordo com uma pesquisa recente conduzida por especialistas em saúde global, que empregaram um modelo de circulação global para prever a incidência futura da dengue, foi revelado que o aumento da temperatura facilita a disseminação da doença em regiões limítrofes de zonas endêmicas. Além disso, em regiões tropicais já saturadas pela dengue, os padrões de migração humana são mais determinantes para a transmissão do que os fatores climáticos isolados.

Outra pesquisa, ao estimar a expansão dos limites geográficos da transmissão da dengue entre 1975 e 1996, levou em consideração variáveis climáticas como pressão de vapor, precipitação e temperatura. Os resultados indicaram uma associação significativa entre o aumento da incidência de dengue e essas variáveis climáticas, prevendo não apenas uma ampliação da população em risco, mas também um aumento das áreas afetadas pela doença.

O crescente corpo de evidências científicas aponta para a ampliação dos limites geográficos da transmissão da dengue e o aumento do risco em regiões endêmicas devido às mudanças climáticas. Compreender a complexa relação entre as variáveis climáticas e a dinâmica da dengue é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de mitigação e controle da doença. Diante da previsão de intensificação das mudanças climáticas e do aumento dos eventos climáticos extremos, a pesquisa contínua e os modelos quantitativos desempenham um papel crucial na previsão e gerenciamento desses impactos, ressaltando a necessidade de uma abordagem integrada, preditiva e adaptativa na saúde pública.

Problemas complexos exigem soluções inovadoras e eficazes. Nesse contexto, avanços tecnológicos recentes oferecem novas perspectivas no combate ao Aedes aegypti.

Em meio aos desafios impostos pelas mudanças climáticas e pelo aumento dos casos de dengue, a tecnologia Aedes do Bem™, desenvolvida pela Oxitec, representa uma solução comprovada e eficaz. Essa solução biológica, segura e direcionada utiliza mosquitos Aedes aegypti machos autolimitantes para combaterem sua própria espécie, reduzindo drasticamente a população de mosquitos transmissores de doenças. Aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança e em uso desde 2021, a Aedes do Bem™ é um exemplo tangível do progresso na luta contra o mosquito transmissor da dengue. Em conjunto com a pesquisa contínua e os modelos quantitativos, iniciativas como essa oferecem esperança na busca por estratégias eficazes de mitigação e controle da doença, preparando-nos para enfrentar os desafios futuros das mudanças climáticas. Diante dos riscos crescentes, a inovação e a adaptação são nossas melhores armas na proteção das comunidades vulneráveis.

*Natalia Ferreira é diretora executiva da Oxitec do Brasil desde dezembro de 2017. Com um doutorado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Campinas, ela tem vasta experiência em liderança de P&D/Biologia Molecular e Sintética em empresas como Amyris Biotechnologies e Braskem S.A. Antes de ingressar na Oxitec em 2016, Natalia trabalhou por 3 anos como Pesquisadora Associada e Líder de Pipeline na Universidade de Campinas e na EMBRAPA. Na Oxitec, liderou projetos de transferência de P&D & tecnologia antes de assumir a posição estratégica de estruturar as operações brasileiras para o lançamento comercial do produto Aedes do Bem™ em outubro de 2021

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