O uso do protetor solar é recomendado por pesquisadores e médicos do mundo todo a partir de diversos estudos científicos que comprovam sua eficácia, e deve ser utilizado em todos os períodos do ano, inclusive no inverno e até mesmo em ambientes internos. De acordo com o médico oncologista Rodrigo Villarroel, coordenador do Comitê de Tumores de Pele da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a recomendação de uso do protetor solar faz parte de um consenso científico sobre fotoproteção no Brasil publicado ainda em 2016 pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e chancelado pela própria SBOC.
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O especialista afirma que, muitas vezes, informações equivocadas circulam na internet e falsos especialistas costumam adotar o discurso científico para justificar suas afirmações em materiais compartilhados nas redes sociais. “Nessa falácia, geralmente, os supostos especialistas escolhem um único ou poucos artigos científicos, normalmente, de pesquisas pouco abrangentes e sem tanta credibilidade, e ignoram centenas de outros artigos científicos que o contradizem e que estabelecem o consenso científico”, detalha Villarroel.
Por isso, ele esclarece que é importante ter cuidado com as informações divulgadas na internet relacionadas à saúde, e em caso de dúvidas, sempre procurar um especialista ou uma fonte científica de uma instituição certificada e confiável. “Todo o cuidado ainda é pouco. É preciso antes de acreditar e compartilhar determinadas informações, checar a autoridade de quem diz”, conclui ele.
Confira a seguir a explicação do especialista sobre alguns mitos e verdades sobre o uso do protetor solar:
1) É verdade que o uso do filtro solar bloqueia os raios UVB, responsáveis pela síntese da vitamina D pelo organismo, ao mesmo tempo em que permite a passagem dos raios UVC, que causam câncer?
Rodrigo Villarroel: Isso é absolutamente incorreto. No espectro da radiação eletromagnética, existem três tipos de raios Ultravioleta (UV), sendo eles o tipo C, que apesar de ser o mais nocivo, não chega até nós, pois é completamente absorvido na atmosfera; o tipo B, que representa até no máximo 5% dos UV que recebemos, penetrando na nossa pele até a camada da epiderme e estando relacionado à produção de vitamina D e com o câncer de pele; e o tipo A que representa pelo menos 95% dos UV que nos atingem, penetrando na pele mais profundamente (até a derme) e estando relacionado com o envelhecimento da pele e com o câncer de pele também.
Os filtros UV podem ser divididos em inorgânicos (ou físicos), que atuam refletindo a radiação, e orgânicos (ou químicos), cuja ação é absorver a radiação. A maioria dos protetores solares existentes combina, em suas formulações, filtros orgânicos e inorgânicos a fim de atingir o nível de eficácia esperado, caracterizado pelo Fator de Proteção Solar (FPS) adequado e a proteção UVA, bem como a cobertura mais uniforme dentro das faixas UVA e UVB. Por isso, os pesquisadores e médicos recomendam o uso de filtros solares com proteção de amplo espectro, ou seja, com proteção para UVA e UVB.
2) É verdade que os filtros solares podem impactar na absorção de vitamina D pelo organismo e, por isso, devemos nos expor ao sol durante um tempo antes de usar filtro solar?
Rodrigo Villarroel: Se considerarmos o fato de que o uso de fotoprotetores reduz de forma significativa a quantidade de UVB que atinge a pele, teoricamente, até poderia haver interferência na produção da vitamina D. Entretanto, a dose estimada de UVB necessária para a produção de 1000 UI, isto é, a quantidade de doses conforme a Unidade Internacional, de vitamina D é muito baixa. Estudos feitos no Brasil, por exemplo, já mostraram que a exposição ao ambiente externo por apenas 10 minutos diários, somente das mãos e face, já é o suficiente para a produção de níveis adequados de vitamina D em uma pessoa de pele mais clara (fototipo II). Portanto, o uso de fotoprotetores, da forma como é habitualmente utilizado pelos usuários, e que muitas vezes não sendo aplicado na quantidade adequada e com a frequência e regularidade recomendadas, não poderia ser considerado como um fator predisponente ao desenvolvimento de deficiência de vitamina D.
3) É verdade que para absorver a vitamina D o melhor horário para se expor ao sol seria às 12h?
Rodrigo Villarroel: A exposição da pele neste horário sem proteção adequada tem o potencial de oferecer mais riscos do que benefícios, principalmente se ocorrer de maneira prolongada. Como já comentado, para a produção de vitamina D, exposições tão curtas como de apenas cerca de 10 minutos em apenas parte do corpo já são suficientes para a maior parte das pessoas, conforme indicam pesquisadores e médicos.
4) É verdade que a produção de catelicidina, uma das linhas de defesa do organismo, é afetada pelo uso de protetor solar?
Rodrigo Villarroel: A catelicidina é uma substância com propriedades imunomodulatórias, isto é, que atuam no sistema imunológico contra determinados microrganismos como vírus e bactérias, e sua função parece estar relacionada com a vitamina D, como pesquisadores vêm estudando. Através de mecanismos bastante complexos, ela pode exercer efeitos contraditórios, como a promoção ou a inibição do crescimento de tumores. Existem evidências científicas mostrando que ela pode exercer um efeito tumorigênico (formador de tumor) para câncer de pele, de próstata, de mama, de pulmão e de pâncreas, dependendo de diferentes receptores expressos nas células tumorais. Mas não existem estudos científicos relacionando sua produção com o uso de filtro solar.
5) É verdade que o protetor solar também deve ser utilizado diariamente, mesmo durante o inverno?
Rodrigo Villarroel: Sim. A radiação ultravioleta tem valores maiores em latitudes geográficas menores, mas outros fatores como altitude, estação do ano, horário do dia e características meteorológicas como a presença de nuvens e mesmo a poluição atmosférica podem influenciar a intensidade da radiação solar. As regiões norte e nordeste tem pouca variação de UV durante o ano, enquanto as regiões sul e sudeste tem maior variação dos níveis de UV entre o verão e o inverno. A região central do Brasil, por exemplo, eventualmente recebe sua maior incidência de raios UV durante as estações mais secas (outono e inverno), quando existem menos chuvas e uma maior quantidade de dias com céu claro. Apesar destas variações, os níveis de radiação UV em condições de céu claro são sempre muito altas em cada estação do ano em quase todo o território brasileiro, portanto, encorajar a população para as precauções necessárias pode reduzir as consequências indesejáveis de uma exposição excessiva ao sol.
*Informações Assessoria de Imprensa