Cada vez mais, pessoas famosas divulgam o diagnóstico de suas doenças como uma forma de alertar a população. A atriz Paloma Duarte, por exemplo, divulgou pelas redes sociais que tem endometriose. Outras personalidades também já revelaram que sofrem com a doença, como Anitta, Larissa Manoela, Isabella Santoni, Gabriela Pugliesi, Patrícia Poeta e Giovanna Ewbank. Ainda chama atenção o fato de a endometriose ser uma doença silenciosa.

A endometriose atinge entre 6% e 10% da população mundial feminina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 190 milhões de mulheres enfrentam o problema no mundo. Por ser uma doença dependente das variações cíclicas de estrogênio, afeta mulheres em idade reprodutiva, ou seja, período em que a mulher pode ter filhos. No Brasil, a endometriose acomete cerca de 7 milhões de mulheres, o que torna a doença um problema de saúde pública no país devido à sua alta prevalência. Dados do Ministério da Saúde apontam que uma em cada dez mulheres brasileiras têm endometriose.

De acordo com a cirurgiã geral Fernanda Keiko Tsumanuma, do Instituto de Oncologia do Paraná – IOP, a endometriose é uma combinação de fatores: genéticos, imunológicos, hormonais e anatômicos. “A endometriose ficou conhecida como a ‘doença da mulher moderna’. Hábitos e estilo de vida com maior nível de estresse, gravidez tardia ou em menor quantidade e maior número de ciclos menstruais são considerados fatores de risco”, aponta a médica.

A endometriose como doença silenciosa

A endometriose na adolescência apresenta outros fatores de risco, que são menarca precoce (primeira menstruação antes dos 14 anos), ciclo menstruais curtos, história familiar (endometriose em parente de primeiro grau), nível de exposição ao tabagismo, grande consumo de cafeína e álcool. Até um terço das adolescentes com dor pélvica podem ter endometriose.

A doença tem três classificações, que são a endometriose peritoneal superficial, a de ovário ou endometrioma e a endometriose profunda. Os sintomas da endometriose se manifestam por dor durante a menstruação, dor pélvica crônica ou dor esporádica durante a relação sexual, alterações intestinais cíclicas, distensão abdominal, sangramento nas fezes, constipação, dor anal, alterações urinárias e infertilidade (dificuldade para engravidar).

Diagnóstico

Para se fazer o diagnóstico é necessária a avaliação de sintomas, exame físico, exame de sangue (marcador biológico CA 125), exame de imagem (ecografia ou ressonância magnética com mapeamento de endometriose) e a laparoscopia (procedimento cirúrgico realizado por meio de pequenas incisões no abdômen, utilizando pinças especiais e um vídeo capturado pela câmera e exibido em monitores).

Quando não tratada, a endometriose pode causar um grande prejuízo à qualidade de vida física e emocional da mulher, como:
. Dor crônica pélvica e abdominal que limitam seus afazeres diários, dificuldade em exercer com eficácia sua profissão;
. Alteração do hábito urinário e intestinal: sensação de bexiga cheia pós micção, urgência miccional;
. Queda na qualidade de vida sexual: dor, ausência de prazer;
. Isolamento social: frustração, indisposição, vergonha, preocupação, ansiedade e depressão;
. Impacto econômico: intervenções medicamentosas e cirúrgicas, recorrentes ausências no trabalho, redução da capacidade laboral;
. Infertilidade: a endometriose avançada pode diminuir a reserva ovariana, redução da qualidade do embrião e de sua implantação.

Como a endometriose é tratada?

O tratamento deve ser feito de forma individualizada e é realizado por uma equipe multidisciplinar, levando em consideração os sintomas, a extensão e a localização da doença, desejo de gravidez, idade da paciente e efeitos colaterais dos medicamentos. “Há, basicamente, três tipos de terapêutica para a doença, que são:
1. Tratamento medicamentoso: é eficiente para o controle da dor, atenuando os sintomas e melhorando a qualidade de vida: prescrição de analgésicos e anti-inflamatórios ou terapia hormonal para reduzir a quantidade de estrogênio;
2. Tratamento cirúrgico conservador ou definitivo é indicado para sintomas graves, distorção da anatomia, acometimento de vias urinárias ou intestinais e/ou infertilidade;
3. Tratamento clínico-cirúrgico: supressão hormonal prévia à cirurgia, tratamento medicamentoso pós-cirúrgico para as pacientes com persistência dos sintomas.

“A cirurgia é realizada por um procedimento minimamente invasivo, por laparoscopia ou por meio de uma plataforma robótica. O procedimento cirúrgico é realizado com pequenas incisões feitas no abdômen, utilizando pinças especiais, e um vídeo capturado pela câmera de alta resolução e exibido em monitores. O tratamento cirúrgico consiste na remoção das lesões de endometriose que podem envolver a pelve de forma superficial ou profunda. A endometriose pode acometer órgãos como bexiga, útero, ovário e intestino. Em alguns casos, pode haver a necessidade de ressecção parcial destes órgãos”, ressalta a cirurgiã.

O maior benefício desse tipo de cirurgia é resgatar a qualidade de vida da mulher. Apoiá-la emocionalmente, reduzir suas dores físicas, resgatar sua autonomia e melhorar sua satisfação sexual.

Efeito colateral pós-tratamento

A recidiva e sintomatologia pós-cirúrgica é multifatorial, pois depende da anatomia, preservação da fertilidade, extensão e localização da endometriose. Existe a possibilidade de recidiva da endometriose, sendo maior em pacientes jovens. Estima-se que até 13% das pacientes podem ter endometriose microscópica. De acordo com Fernanda Keiko Tsumanuma, “Algumas pacientes podem desenvolver aderências pélvicas, apresentar distúrbio urinário transitório ou definitivo, alteração da lubrificação vaginal, constipação ou sensação incompleta de evacuação”.

Tem como se prevenir?

Estudos sugerem que a prática de exercícios físicos (30 minutos por dia ou 150 minutos durante a semana) e uma dieta equilibrada com alimentos ricos em ômega-3 (salmão, atum, sardinha, castanhas, sementes, como linhaça, chia, cânhamo, folhas verdes-escuras – couve, brócolis, espinafre –, feijão, soja, ervilha, grão-de-bico, por exemplo) com efeito anti-inflamatório, e vitamina D, além do consumo de frutas, preferencialmente orgânicas, podem ter efeito protetor, com redução no risco de desenvolvimento da doença.

* Informações da assessoria de imprensa

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