Os efeitos da pandemia sobre as doenças do coração

Que a pandemia de Covid-19 deixou diversos impactos, isso ninguém tem dúvidas. Mas eles não estão restritos apenas ao atendimento específico dos pacientes com a doença. Há efeitos da pandemia sobre as doenças do coração, influenciadas diretamente pelo aumento do sedentarismo, a falta de alimentação adequada, ganho de peso e a redução na procura pelos check-ups durante os últimos meses, entre outros fatores relacionados ao isolamento social, mudanças na forma de trabalhar e medo do coronavírus. 

Os efeitos da pandemia sobre as doenças do coração já são sentidos pelos serviços de saúde. “Estamos notando um aumento drástico, um descontrole de casos de hipertensão, diabetes e colesterol, que podem ser associados ao isolamento social. As pessoas fizeram menos atividades físicas e pioraram o padrão alimentar. A consequência é um ganho de peso e piora dos níveis glicêmicos e de pressão arterial, condições silenciosas que a longo prazo podem desenvolver problemas para o coração, gerando infarto e AVC, que são as principais causas de morte em todo o mundo”, alerta o médico Leandro Vasconcelos, chefe de Cardiologia Clínica do Hospital São Vicente Curitiba (PR).

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Para evitar os efeitos da pandemia sobre as doenças do coração, é essencial a ida até um especialista. O acompanhamento não deve ser feito apenas em idades mais avançadas ou quando algum quadro já está instalado. Ninguém pode procurar um médico cardiologista apenas quando surgem as dores no peito. “Não é raro pacientes infartarem entre 30 e 40 anos, pois tinham diabetes, colesterol ou hipertensão se desenvolvendo de maneira silenciosa durante anos. Se tivessem sido detectados de maneira precoce, poderíamos ter feito alterações no estilo de vida e uso de medicamentos, se necessário, para evitar isso”, considera.

Por isso, Vasconselos orienta que os check-ups tenham início pelo menos a partir dos 30 anos. Mas, se a pessoa possui fatores de risco, como estar acima do peso e ser sedentária, a recomendação é uma avaliação cardiológica ainda mais cedo. O médico pode solicitar uma série de exames para auxiliar no acompanhamento, que pode resultar em uma investigação mais profunda, dependendo da necessidade. 

 

Como a Covid-19 também faz parte dos efeitos da pandemia sobre as doenças do coração

A Covid-19 deixa sequelas no coração dos pacientes que tiveram a infecção causada pelo coronavírus. Uma análise publicada na revista científica JAMA Cardiology revelou anomalias no coração em 78% de pacientes que tiveram Covid-19 e fizeram parte de um estudo sobre o tema – 60% apresentavam inflamação do miocárdio. Os pesquisadores fizeram a avaliação a partir de ressonâncias magnéticas de indivíduos que tinham se recuperado da Covid.

Este mesmo estudo registrou elevados níveis de troponina, uma enzima que é liberada no sangue quando ocorrem danos cardíacos, em 76% das pessoas avaliadas. Outra pesquisa, publicada no European Heart Journal, registrou resultados semelhantes: cerca de 50% dos doentes que foram hospitalizados com sintomas severos do coronavírus tinham danos no coração, como miocardite, enfarte, isquemia ou uma combinação dos três. 

As lesões no coração foram encontradas até mesmo um mês após os pacientes receberem alta do hospital. O médico cardiologista Thiago Rodrigues, que atende no centro clínico do Órion Complex, de Goiânia (GO), destaca que esses problemas não têm prazo para surgir. “As sequelas podem aparecer logo no pós-covid, como até um ano depois da recuperação”, afirma.

Quanto aos efeitos da pandemia sobre as doenças do coração, o especialista ressalta que as sequelas podem atingir com mais frequência os idosos, até porque muitos deles já têm problemas cardíacos. No entanto, os problemas também foram verificados em adultos jovens, sem nenhuma doença pré-existente. Ele ainda completa que, algumas vezes, as sequelas cardíacas podem aparecer até mesmo durante a internação da pessoa para o tratamento do coronavírus, principalmente se for alguém com histórico.

Apesar deste conhecimento, ainda não há uma forma de evitar que um paciente tenha  sequelas cardíacas no período pós-Covid. Os recuperados do coronavírus precisam se atentar a sintomas como palpitações, dor no peito, tontura e falta de ar, os quais são característicos de problemas no coração. “O tratamento vai depender da doença que a pessoa desenvolveu e ainda é cedo para dizer se será algo contínuo, pois não temos estudos concretos sobre o tema”, salienta o especialista.

* Com informações das assessorias de imprensa

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