Nos últimos anos, a internet e os demais meios de comunicação têm propagado diversos artigos sobre uma possível vacina contra o câncer. O quanto disso é real ou ficção e o quão perto está do uso no nosso dia a dia?
A ideia central de uma vacina contra o câncer é semelhante ao de uma vacina contra outras doenças já conhecidas (gripe, tétano, poliomielite, etc). O indivíduo recebe aplicação de uma substância que irá estimular seu sistema imune contra aquela doença — neste caso, o câncer. Importante salientar que o uso da vacina pode ser preventivo (antes do surgimento do câncer) ou terapêutico (após o indivíduo ser diagnosticado com o câncer).
Assim como existem diversas vacinas, uma para cada tipo de doença infecciosa, também na área da oncologia estão sendo estudadas diversas vacinas, uma para cada tipo de câncer. E por enquanto é pouco provável que haja uma só vacina que combata todos os tipos de câncer.
Para fins preventivos, a principal vacina disponível é contra o vírus HPV. Esse organismo é responsável por causar quase a totalidade dos tumores de colo uterino e a introdução da vacina pode reduzir drasticamente a incidência desta neoplasia. Atualmente essa vacina está disponível pelo SUS para meninas de 9 a 14 anos, meninos de 11 a 14 anos e mulheres imunossuprimidas de 9 a 45 anos.
Para fins terapêuticos existem apenas duas vacinas aprovadas para uso, uma para câncer de próstata e outra para melanoma. Ambas estão disponíveis apenas nos Estados Unidos e sem previsão de chegar ao Brasil. A eficácia de ambas é animadora, mas ainda inferior aos principais tratamentos que temos em oncologia (cirurgia, quimioterapia, imunoterapia…). Para outros sítios tumorais, há diversos estudos em andamento, mas ainda sem comprovação de eficácia que justifique seu uso disseminado.
Embora a vacina contra o câncer exista sim e já seja utilizada, apenas a vacina contra o HPV tem eficácia bem validada, e para a prevenção. Quanto às vacinas terapêuticas, esta é uma modalidade que ainda está sendo aperfeiçoada e atualmente tem uso limitado. Nos próximos anos, a vacina (tanto preventiva quanto terapêutica) deve ganhar espaço entre as principais terapias em oncologia, mas por enquanto os pacientes devem manter seu tratamento com o arsenal disponível — quimioterapia, terapia alvo, imunoterapia, hormonioterapia, radioterapia, entre outros.
Lucas Sant’Ana é médico oncologista do OncoCenter Dona Helena, de Joinville (SC).
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