Outubro rosa. Mês da conscientização sobre o câncer de mama. Desde que foi instituído, na década de 90, entidades de todo o mundo aderiram a esse movimento, com diversas formas de manifestação. E isso não é por acaso. Pois apesar de todas as pesquisas e descobertas, o câncer de mama ainda é o tumor mais frequente e a principal causa de morte por câncer entre as mulheres no mundo. Somente para o Brasil, para o ano de 2022, são estimados mais de 66 mil casos novos de câncer de mama e cerca de 20 mil óbitos. No mundo, mais de 2 milhões de mulheres serão diagnosticadas com câncer de mama em 2022.
É por isso que a Comissão Nacional de Mamografia (CNM) do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) – entidade que há 74 anos representa oficialmente a especialidade no país -, aproveita essa data para enfatizar a importância do rastreamento mamográfico, da qualidade dos exames realizados e do acesso ao tratamento.
Existem sólidas evidências científicas sobre o impacto do rastreamento mamográfico na redução da mortalidade. Somente nos Estados Unidos, houve uma queda de 30% na mortalidade desde 1990, quando foram iniciados os programas de rastreamento com mamografia. Na Europa, alguns países, como a Suécia, registraram uma redução de 36% na mortalidade em comparação com a era pré-rastreamento, enquanto outros, como a Noruega, demonstraram uma redução de 10% na mortalidade relacionada somente ao rastreamento.
No Brasil, devido à inexistência de um programa organizado de rastreamento populacional, ainda não foi observada redução absoluta nas taxas de mortalidade. Mas alguns estudos já estão sinalizando uma tendência de queda em algumas regiões do Brasil, como no Sul e no Sudeste, que poderia estar relacionada com uma maior densidade de mamógrafos e um maior número de mulheres submetidas ao rastreamento. Isso é um sinal positivo. Mas nosso país é continental e é nossa obrigação lutar para ampliar o acesso aos exames e benefícios do rastreamento para todas as mulheres.
A CNM está empenhada não apenas em ampliar o número de mulheres que se submetem ao rastreamento mamográfico, mas também em melhorar efetivamente a qualidade dos exames oferecidos pelos mais de 5.000 mamógrafos distribuídos em todas as regiões brasileiras. Isso porque sem uma melhoria da qualidade dos exames, não teremos impacto em termos de sobrevida para as pacientes com câncer de mama. Exames de baixa qualidade prejudicam triplamente. Possuem acurácia reduzida, colocam as pacientes em risco por doses de radiação superiores às desejadas e, talvez a pior das consequências, causam uma falsa sensação de segurança. A CNM do CBR trabalha há mais de 30 anos pela melhoria da qualidade dos exames.
Avançamos bastante com os programas de qualidade, mas ainda resta muito a ser feito. Principalmente aumentar o número de serviços que participam dos programas de qualidade, já que, desde 2013, através da Portaria nº 2898/MS, é obrigatório a participação de todos os serviços públicos e privados no Brasil.
No Brasil, infelizmente, muitas vezes as pacientes conseguem até realizar a mamografia, mas existem outras limitações que fazem diferença em termos de tempo entre o exame suspeito, o diagnóstico e o início do tratamento oncológico. Atualmente existe a Lei dos 60 dias, no qual nenhum paciente poderia esperar mais do que esse tempo entre o diagnóstico e o tratamento. Mas há uma grande dificuldade em colocá-la na prática. Portanto, é nosso dever lutar por investimentos maciços na saúde, tanto no diagnóstico como no tratamento, de um dos tumores mais impactantes na vida das mulheres.
Dessa forma, a Comissão Nacional de Mamografia do CBR reforça a importância do rastreamento mamográfico para todas as mulheres assintomáticas acima de 40 anos. Mas, principalmente, que esses exames sejam de qualidade e que, após o resultado, todas as pacientes tenham acesso ao tratamento adequado. Todos juntos contra o câncer de mama!
*Dra. Linei Urban é coordenadora da Comissão Nacional de Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR)
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