O mundo contemporâneo permite que diversos temas até então desconhecidos ganhem espaço nas sociedades pelo mundo e sejam cada vez mais debatidos. As tecnologias digitais que utilizamos atualmente contribuem diretamente para acelerar esse processo, uma vez que divulgam-se conteúdos em grande velocidade a uma grande quantidade de pessoas. Porém, se por um lado esse dinamismo oferece uma série de vantagens no que diz respeito ao acesso a conhecimentos, por outro, há muita desinformação sobre temas importantes, entre eles, o autismo.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) abrange as diferentes condições caracterizadas por alterações no desenvolvimento neurocognitivo que podem ou não afetar os interesses, comunicação e comportamentos das pessoas. Ele recebe o nome de “espectro” por envolver diferentes tipos de apresentação, além de uma gradação que varia em graus de suporte diferentes. Como o transtorno implica sobre questões relacionadas à interação social, o indivíduo autista costuma apresentar dificuldades no contato e comunicação com outras pessoas, além de um comportamento singular e maior sensibilidade sensorial. Contudo, a condição não impede de forma alguma que a pessoa autista exerça seu papel na sociedade da mesma forma como os outros indivíduos que não são neuroatípicos.
Ainda que ao longo dos últimos anos o Transtorno do Espectro Autista esteja sendo cada vez mais desmistificado pela ciência e explicado de maneira séria e didática à sociedade, a desinformação e estereótipos relacionados ao tema corroboram com a discriminação das pessoas autistas. Um dos estigmas presentes na sociedade atualmente é o de que o autismo é um “modismo”, uma “tendência” recente, o que não é verdade. Donald Gray Triplett, norte-americano atualmente com 88 anos, foi a primeira pessoa diagnosticada com o TEA, em 1938, após consulta com o psiquiatra austríaco Leo Kanner. Ao longo das décadas seguintes e com o avanço da compreensão científica sobre a mente e o comportamento humano, mais pessoas foram definidas com o Transtorno do Espectro Autista, o que trouxe à tona uma série de novas informações e discussões sobre o tema. Autismo, portanto, sempre existiu, ele não é uma tendência ou um modismo efêmero. O TEA é uma neurodiversidade que precisa ser acompanhada com informação, racionalidade e respeito.
De acordo com dados do Conselho Nacional de Saúde (CNS), estima-se que existam cerca de 2 milhões de pessoas dentro do espectro autista no Brasil, além de 70 milhões de indivíduos com o TEA no planeta, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Apesar dos números robustos e dos diagnósticos cada vez mais difundidos, a falta de conhecimento a respeito do tema causa dificuldades à vida das pessoas com o transtorno, inclusive com impacto nas famílias, que alimentam inseguranças em relação ao autismo. Quem está dentro do espectro autista ainda enfrenta dificuldades devido ao despreparo e estigmas presentes na sociedade para lidar com o tema, e vê barreiras na hora de fazer cursos e ingressar no mercado de trabalho. Números da National Autistic Society, do Reino Unido, mostram que cerca de 83% dos graduados universitários autistas estão desempregados, por exemplo.
É necessário, portanto, destinar esforços em prol da inclusão de pessoas neuroaTípicas, tanto no mercado de trabalho quanto na sociedade em geral. Para isso, especialistas argumentam que é importante que exista uma participação maior da iniciativa pública e privada para promover a integração dos indivíduos autistas de forma plena na sociedade. Tais ações devem tomar como base a divulgação correta de informações sobre a pauta, com o intuito de mostrar à sociedade que o autismo não é nenhum modismo, mas sim uma diferença no funcionamento cognitivo que deve ser visto de forma natural, acolhedora e respeitosa.
*Caio Bogos é CEO e Fundador da aTip, startup atuante no elo entre profissionais autistas e empresas.
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