Os índices de cobertura vacinal no Brasil vêm chamando a atenção de especialistas e autoridades de saúde, além de causar preocupação. Há pelo menos sete anos os índices de cobertura vacinal estão caindo para diferentes doenças, incluindo hepatite, tuberculose, sarampo, difteria e poliomielite. A cada campanha surgem novos desafios para a retomada das boas taxas, a exemplo do que aconteceu em outros momentos da história do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do país, que se tornou referência mundial em décadas anteriores.
A Secretaria de Saúde do Paraná se manifestou recentemente sobre a queda na adesão à vacinação, demonstrando preocupação. Segundo a pasta, 10 vacinas aplicadas em crianças e adolescentes apresentaram redução na cobertura vacinal. Entre elas está a vacina contra hepatite aplicada logo após o nascimento: em 2015, a cobertura foi de 88,74%; em 2021, 57,18%. A mesma tendência foi verificada com a BCG, que protege contra a tuberculose. Há sete anos, a adesão foi de 100% das crianças; no ano passado, a cobertura vacinal chegou a 77,23%.
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Existem várias explicações e também desafios para a retomada dos bons índices de cobertura vacinal, ainda mais diante dos efeitos da pandemia de Covid-19. A crise sanitária agravou um cenário que já estava delineado.
Entre os motivos para a queda nos índices de cobertura vacinal está a mudança na percepção de risco diante de algumas doenças, na avaliação de Isabela Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Em entrevista coletiva promovida pela Pfizer sobre a apresentação de um estudo que revelou os impactos socioeconômicos das vacinas durante a pandemia, nesta quarta-feira (8 de junho), a especialista destacou que o “medo da doença” mobiliza a população. E, como várias delas foram erradicadas ou se tornaram menos comuns no dia a dia, muitas pessoas deixaram de enxergar esses riscos, o que impactou na busca pelas vacinas.
“Nas décadas anteriores, alguém conhecia ou lembrava como era a difteria, o sarampo e outras doenças. Isto favoreceu a vacinação. Todos queriam se vacinar porque a percepção do risco era maior. Entre os anos 1997 e 2015, essa memória ainda existia e a cultura pró-vacinação foi estabelecida. Entretanto, posteriormente, não houve a manutenção de uma comunicação empática, assim como parte da população esqueceu destas doenças. As pessoas só vão aos postos de saúde quando acontecem os surtos”, relatou Isabela.
De acordo com ela, sem a percepção de risco e a falta de uma comunicação efetiva, surgiram as dúvidas sobre as vacinas. A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) não acredita que a hesitação vacinal esteja ligada apenas às fake news, o que afetou os índices de cobertura vacinal. Trata-se de um conjunto, que engloba fatores contextuais e culturais; confiança no sistema de saúde e nos profissionais; e a desinformação; entre outros.
Isabela Ballalai destacou ainda que a população precisa de informações precisas, comunicação empática e acesso facilitado para que a adesão à vacinação aconteça. Apesar do grande número de salas de vacinação em todo o país, é necessário garantir que o tempo de espera não seja demasiado, que as informações não sejam confusas e que a população se sinta acolhida. Se em determinado momento alguém passou horas na fila e não conseguiu se vacinar, não é garantia que conseguirá novamente uma brecha na rotina corrida para isso. E, assim, a vacinação ficará em segundo plano. “É necessário acolher, informar, conquistar e sermos empáticos. A maior causa (para os baixos índices de cobertura vacinal) é a desinformação, e não estamos falando apenas de fake news, apesar do estrago que elas causam. Eles (quem formula as notícias falsas) têm abordagens criativas; nós estamos sem criatividade nenhuma”, opinou.
Vacinação de adultos
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) esclareceu ainda que, para garantir a retomada dos bons índices de cobertura vacinal, é necessário também vacinar os adultos. A imunização das crianças garante uma maior qualidade de vida e também um aumento da expectativa de vida da população, mas esta jornada precisa ser contínua em todas as etapas do crescimento. Além disso, adultos vacinados contribuem para o controle de uma série de doenças, protegendo também aqueles que ainda não podem receber a dose.
Isabela ressaltou que os pediatras também podem e devem contribuir para a orientação e sensibilização dos adultos para a vacinação. “Nossas campanhas ficam ‘longe’ dos adultos, que às vezes nem sabem que existem campanhas para eles”, indicou.
A especialista ainda lembrou que “vírus importados” sempre chegarão ao país, que só causarão impacto se os índices de cobertura vacinal não estiverem elevados. Exemplo disto foi o sarampo. Os surtos foram registrados novamente no Brasil a partir de 2018, justamente por essa combinação.
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