Reconhecidamente mais tradicional do que setores como indústria e comércio, a saúde experimentou mudanças importantes de 2020 para cá: adoção da telemedicina, discussões sobre a regulamentação definitiva da telessaúde no Brasil e, mais recentemente, os impactos do 5G no dia a dia de hospitais, clínicas e operadoras. Porém, com grandes possibilidades de mudanças, as instituições precisam se organizar para definir o que deve ser feito primeiro e, assim, definir estratégias, criar iniciativas e promover uma cultura digital.
Nesse sentido, a simples adoção de tecnologias não é suficiente. Isso não quer dizer que elas não sejam importantes, mas, para que sejam implementadas adequadamente, outros fatores precisam ser levados em consideração. Essa análise se torna ainda mais necessária se considerarmos que, apesar dos avanços dos últimos anos, gestores ainda têm dúvidas em relação a elementos básicos da transformação digital – de acordo com o relatório Philips Future Health Index 2021, 44% das lideranças da área citaram dificuldades com a gestão de dados – primordial para o início da digitalização de qualquer organização.
Um dos aspectos que a transformação digital na saúde reforça é a melhoria da eficiência operacional para simplificar tarefas, mudando a mentalidade das empresas com o objetivo de acompanhar não só as novidades tecnológicas, mas também as novas demandas e necessidades dos pacientes.
Por exemplo: talvez, em algum momento da vida, você tenha usado os serviços de alguma clínica ou hospital e não tenha percebido que a transformação digital já estava presente ali. Isso porque seu atendimento foi tão prático, eficiente, e tudo ocorreu tão bem que você nem notou os diversos processos que estavam envolvidos na ocasião. Focar apenas em um compilado de tecnologias sem ter um objetivo traçado ou levar em conta aspectos essenciais para a segurança do paciente é um dos principais erros cometidos por instituições de saúde.
Pilares da transformação digital na saúde
Gestores precisam estar atentos a diferentes aspectos da transformação digital para conseguir promover um pensamento voltado a esse conceito. Primeiramente, é preciso compreender como as equipes serão impactadas pelas mudanças – e quais benefícios elas trarão para o dia a dia. Afinal, do time assistencial ao jurídico, todos serão afetados.
Outro ponto é a adoção de uma abordagem menos conservadora em relação às inovações, prezando por uma equipe que reconheça a melhoria de processos como algo essencial no cuidado ao paciente. Pensando nisso, avançamos para o pilar seguinte: a experiência desses pacientes deve ser colocada em primeiro lugar. Antes de aplicar qualquer solução, é essencial refletir sobre como isso irá impactá-los e se estarão satisfeitos com os serviços oferecidos.
Há também o pilar interoperabilidade – ou seja, operações feitas de forma conjunta que permitem a conexão entre diferentes tecnologias, implementando regras padronizadas para que o processo seja seguido. Na saúde, a interoperabilidade permite a troca de dados entre ferramentas utilizadas para melhorar o cuidado ao paciente.
Finalmente, outra máxima adotada deve ser: se um processo pode ser automatizado, então ele deve ser automatizado. Tudo que pode ser feito mecanicamente não depende de uma ação humana estratégica, o que significa que o tempo dos profissionais pode ser revertido em outra demanda. Além disso, os indicadores gerados nos processos automatizados podem melhorar o trabalho da gestão e do atendimento nessas instituições.
O uso inteligente de tecnologia aplicada à saúde é capaz de resolver inúmeros problemas enfrentados no cotidiano, desde aqueles relacionados à gestão, até os que envolvem o atendimento ao público. Porém, sem a compreensão de como essas tecnologias devem ser utilizadas e quais impactos elas trarão para a instituição, gestores correm o risco de adotar soluções ineficazes para suas demandas – e, com isso, julgar que elas não se aplicam ao ambiente de saúde. Por isso, o olhar estratégico para mudanças é essencial. Mais do que abraçar a transformação digital, chegou a hora de encará-la de forma mais especializada.
* Alex Meincheim é CEO da healthtech Upflux, primeira plataforma de Process Mining no Brasil
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