A cirurgia metabólica é um procedimento reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) como alternativa de tratamento cirúrgico para o diabetes. Estudos publicados em revistas internacionais comprovam o efeito do procedimento no controle da doença e a redução de complicações graves como a insuficiência cardíaca.
Segundo o cirurgião metabólico Dr. Alcides Branco, o diabetes 2 surge geralmente na fase adulta e está ligado à resistência à ação e diminuição da produção de insulina no pâncreas, ação deficiente de hormônios intestinais, dentre outros. A obesidade e o histórico familiar da doença são os principais fatores de risco.
“O diabetes é uma doença que não apresenta sintomas em sua fase inicial e por isso pode ser difícil de ser diagnosticado. Sem controle, o paciente corre sérios riscos para a saúde pois a doença afeta diversos órgãos como os olhos, rins, fígado, coração e todo o sistema vascular”, explica o cirurgião. “Sem acompanhamento ou com um tratamento ineficaz, o paciente pode ter desfechos graves como falência dos rins e precisar de hemodiálise, sofrer amputações e até derrames”, completa Branco.
Segundo a cardiologista Dra. Cláudia Savaris Branco, os efeitos do diabetes no coração são pouco conhecidos pela população geral mas as complicações são graves.
“Os altos níveis de glicose no sangue, junto do aumento dos níveis de colesterol e pressão arterial, promovem a formação de placas que entopem as artérias. Quando uma artéria coronária sofre uma obstrução, o coração entra em sofrimento pela falta de oxigênio. A área afetada pode ser fatal ou levar a sequelas irreversíveis, como a insuficiência cardíaca”, explica a cardiologista.
A gestora de marketing, Eva Degtiar, de 42 anos, estava com o diabetes descontrolado, tomava medicamentos e insulina, e já apresentava outras doenças relacionadas ao descontrole da glicemia.
“Eu estava com a diabetes descompensada, tomada 17 comprimidos por dia. Tinha gordura no fígado, colesterol alto e quase precisando de hemodiálise devido à sobrecarga nos rins. A insulina eu aplicava três vezes por dia, 52 unidades, e não estava resolvendo. Estava próximo de ter um colapso”, conta Eva.
Ela vai completar três anos de cirurgia metabólica em fevereiro e sua vida mudou após o procedimento. “Eu não tomo mais remédios, pude ter a felicidade de ser mãe novamente, estou gestante de cinco meses, e posso dizer que fui curada”, conta Eva.
ESTUDO – Uma pesquisa publicada pelo Journal of the American Medical Association (JAMA) aponta que a cirurgia metabólica é capaz de reduzir em 62% os índices de insuficiência cardíaca em pacientes com diabetes submetidos ao procedimento. Segundo o estudo, que avaliou 13.722 participantes em um acompanhamento de mais de três anos, a cirurgia metabólica apresentou bons resultados no controle do Diabetes Tipo 2 e também promoveu redução de 62% em índices de insuficiência cardíaca; 66% nos índices de doenças renais; 33% em índices de Acidente Vascular Cerebral (AVC); e 31% nas chances de infarto.
No Brasil, a cirurgia metabólica foi normatizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) através da Resolução Nº 2.172 em 2017 como alternativa cirúrgica para pacientes com Diabetes Tipo 2 há menos de 10 anos, entre 30 e 70 anos de idade, com obesidade leve – Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m² – e sem sucesso no tratamento clínico para o controle da doença.
A CIRURGIA METABÓLICA – O objetivo da cirurgia metabólica é oferecer uma opção segura efetiva ao paciente com diabetes tipo 2 antes da evolução das doenças associadas.
Na cirurgia metabólica ocorre o mesmo procedimento da cirurgia bariátrica. A diferença entre as duas é que a cirurgia metabólica visa o controle da doença. Já a cirurgia bariátrica tem como objetivo a perda de peso, com as metas para contenção das doenças, como o diabetes e hipertensão, em segundo plano.
Foi normatizado que a cirurgia metabólica indicada para pacientes com diabetes mellitus tipo 2 se dará, prioritariamente, por bypass gástrico com reconstrução em Y-de-Roux (BGYR). O procedimento é minimamente invasivo, realizado videolaparoscopia, através de pequenos furos na parede abdominal, e consiste em cortar o estômago em duas partes e o intestino em “Y”. Uma das partes é ligada ao estômago.
Essa alteração promove a passagem mais rápida do alimento do estômago para o intestino e traz mudanças metabólicas como a aceleração da produção de hormônios incluindo a incretina, que atua no pâncreas, responsável pela produção de insulina, o que melhora os níveis de glicose no sangue.