Médicos cardiologistas de todo o mundo estão observando um aumento na mortalidade relacionada a doenças cardiovasculares neste momento, principalmente de infarto agudo do miocárdio. Dados de cartórios de registro civil de todo o país registraram um aumento de 31% na quantidade de mortes por doenças cardiovasculares entre 16 de março, no início da pandemia, a 31 de maio, na comparação com o mesmo período de 2019.
Quando esses dados foram divulgados, o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Queiroga, comentou em entrevista ao portal UOL: “Sabe-se hoje que o novo coronavírus tem relação direta com problemas cardíacos. Porém, há outros motivos que podem explicar também essa alta, como o envelhecimento da população, fatores de risco impostos pela pandemia como estresse e tabagismo, e o receio de ir ao hospital quando aparecem sintomas de doenças cardíacas, por medo de contrair a Covid-19”.
E o receio da população é um reflexo também do isolamento social imposto durante a pandemia de Covid-19, o que pode impactar em aumento na mortalidade em casos de doenças cardiovasculares. São situações verificadas especialmente com pessoas idosas, que já têm cardiopatia, segundo Rubens Zenobio Darwich, médico cardiologista do Hospital São Vicente, de Curitiba (PR). “Já aconteceu de uma paciente achar que estava com dor no peito de angústia pelo isolamento, mas estava com quadro de infarto agudo do miocárdio e, por sorte, procurou o hospital”, conta.
O alerta foi intensificado pelos profissionais neste 14 de agosto, em razão do Dia do Cardiologista.
De acordo com Darwich, é necessário ficar muito atento aos sintomas. “Pacientes que estão mais suscetíveis a doenças do coração, como homens acima de 45 anos, mulheres acima de 55 anos, diabéticos, hipertensos, tabagistas e pessoas que têm alteração de colesterol são aquelas que têm um risco maior. Se elas começarem apresentar sintomas de dor no peito, com característica de infarto ou angina, o ideal é que procurem um médico para esclarecer o diagnóstico, e não menosprezar os sintomas”, aponta.
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Outro fator importante neste momento é o estágio e a continuidade do acompanhamento de quem já tem uma cardiopatia. Os pacientes que estão com a hipertensão controlada, tomam os medicamentos regularmente e precisam fazer os check-ups anuais, por exemplo, podem continuar com as recomendações de seus médicos. “Já aos pacientes que têm cardiopatias mais graves, que podem necessitar de avaliações semestrais ou quadrimestrais, o ideal é que tentem agendar consultas da forma adequada para o momento ou por telemedicina. Isso se ele já tem cardiologista o que conhece”, comenta Darwich. Os que ainda não têm um médico cardiologista estabelecido devem passar necessariamente por uma consulta presencial, para que o profissional possa examiná-los e entender melhor as suas situações clínicas.
Outro reflexo
Além dessas orientações, Darwich lembra que o isolamento social tem gerado consequências como confusão mental, aumento dos sinais de depressão e agressividade. “E a depressão, por exemplo, faz com que a pessoa pare de ter comportamentos mais saudáveis, ou abandone tratamentos, tudo isso aliado à crise econômica”, complementa o cardiologista. Por isso, a importância de procurar um atendimento médico em caso de sintomas e continuar o controle das doenças. “Realmente, algumas pessoas estão tendo sintomas como dores no peito, mas são pessoas fora do grupo de risco. E existe esse processo de ansiedade muito grande diante de todo o contexto. Mesmo assim, é preciso atenção porque pode ser que seja algo verdadeiro”, sinaliza.
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