SUS X Sistema de Saúde Privado: Integração Necessária

Estamos vivendo um momento absurdo na saúde do País. No último final de semana acumulamos mais de 1 milhão de pessoas infectadas com o Covid-19 e registramos acima de 50 mil mortes – somos o 2º País com número de mortes relacionadas à doença do mundo.Mesmo assim, por falta de orientação adequada ou por pressão da sociedade, os governadores dos principais Estados acometidos – como São Paulo e Rio de Janeiro – resolvem relaxar a quarentena, única medida sabidamente eficaz, no momento para controle da doença. É evidente a descoordenação e a falta de sinergia entre os diversos órgãos responsáveis pelo setor de saúde à nível municipal, estadual e federal e a limitação parece ser não somente política, mas de nível técnico também.

O SUS, que seria o nosso diferencial nessa questão, por ser o maior Sistema de Saúde do mundo e que deveria estar preparado para atender 160 milhões de pessoas – quase 75% da população -, conta com cerca de 25.000 leitos de UTI (sem considerar os recém-criados leitos de campanha) que não são suficientes para atender a velocidade com que a pandemia se dissemina em nosso meio.

Por outro lado, o Sistema de Saúde privado conta com mais 25.000 leitos distribuídos em cerca de 4267 hospitais próprios ou credenciados, o que perfaz um total de 50.000 leitos de UTI disponíveis aos cerca de 8% dos infectados que vão desenvolver a forma mais grave da doença e necessitar de ventilação mecânica através dos respiradores.

O setor privado, segundo os últimos dados, deve ser responsável pelo atendimento de cerca de 47,1 milhões de brasileiros com investimento maior que o setor público, numa equação complicada onde os gastos do setor público para atender 75% da população são de 551 dólares per capita e no setor privado gasta-se 729 dólares per capita para assistir 25% da população.

Urge, portanto, uma proposta de integração dos sistemas que poderia ter o condão de direcionar mais adequadamente os recursos que, mesmo somados, ainda não serão suficientes para atender a avalanche de casos estimados para as próximas semanas – cerca de 1.000.000 até meados de julho. Para que essa integração ocorra são necessárias pelo menos quatro ações que deveriam ser desencadeadas imediatamente:

1 – Interlocução dos setores: devemos buscar interlocutores qualificados a nível federal estadual e municipal de ambos setores com envolvimento de órgãos como o CONASS – Conselho Nacional de Secretarios de Saúde – que está sob ataque, mas têm representatividade, e a Fenasaude (Federação Nacional de Saúde Suplementar). Estes dois órgãos, inclusive, têm representatividade significativa dentro dos sistemas. O próprio Ministério da Saúde deveria ser o articulador desta interlocução;

 

 2 – Integração dos dados existentes: apesar do repasse que é feito diariamente dos dados privados ao setor público é de fundamental importância que a análise destes dados ocorra de forma integrada para avaliação adequada da evolução da pandemia; exemplos: testagens sendo feita no sistema privado que não são comunicadas ao setor público e critérios de notificação de óbitos devem ser clarificados dentro de protocolos mais adequados para não haver um exagero nem uma omissão de dados;

3 – Levantamento integrados dos recursos existentes: leitos hospitalares, tanto convencionais ou intensivos, disponibilidade de EPI´s e recursos humanos, logística, enfim todos recursos à disposição devem ser levantados e disponibilizados de forma integrada e articulada de forma a possibilitar o atendimento adequado do maior número possível de pacientes tanto Covid-19 ou não; afinal, estamos ou não estamos numa guerra contra a doença?

4 – E finalmente, o que não é fácil, mas não impossível, atuação integrada de ambos setores – o público e o privado – principalmente nas esferas municipais, com a coordenação e recursos dos estados e federação; no município, a integração é mais fácil e objetiva porque os setores já se conhecem e de alguma forma já buscam essa atuação.

É importante ressaltar que não se propõe aqui transferência de recursos de um setor para o outro já que os mesmos são específicos para utilização em cada sistema. Mais um motivo para que a integração da utilização dos recursos seja realizada.

  

Vamos estabelecer objetivos comuns entre os sistemas como foco único no combate à doença o que possibilitará reverter esse jogo.

* Omar Genha Taha é médico e especialista em gestão, atual Presidente da Unimed Londrina e Coordenador do Conselho de Administração da CNU Central Nacional da Unimed  

   

Fontes: CNSaúde, CNESNet, IESS, Datafolha e Siops. 

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