Série especial telemedicina no Brasil: dados e mercado

A pandemia de Covid-19 impulsionou a prática da telemedicina, atendendo às necessidades momentâneas geradas pela crise sanitária. A experiência está sendo boa tanto para paciente quanto para médicos, conforme relatos obtidos pelo Saúde Debate. Mas qual é este universo da telemedicina no Brasil, um ano depois?

A Conexa Saúde, player de saúde digital e considerada a maior plataforma de telemedicina da América Latina, divulgou no mês de abril uma pesquisa em parceria com o Datafolha sobre o perfil do atendimento por telemedicina no Brasil. A ideia foi entender a aceitação e a adoção deste tipo de ferramenta pelos profissionais e também pela população a partir da pandemia. 

Confira a série do Saúde Debate sobre telemedicina:

Um ano de telemedicina em meio à pandemia

Um ano de telemedicina: experiência do paciente e do médico

Teleconsulta: o impacto da pandemia em outras áreas da saúde

O levantamento foi realizado entre os meses de novembro e dezembro de 2020. Foram ouvidas 801 pessoas (sendo 127 usuários da plataforma docpass e 674 da população em geral) e 307 médicos (100 usuários da plataforma Conexa Saúde e 207 médicos em geral). O alcance da pesquisa é nacional. 

Entre os resultados da pesquisa está a percepção da população sobre a importância da telemedicina no contexto da pandemia: 72% dos entrevistados disseram que a telemedicina é considerada uma ótima ferramenta para o acesso à saúde. 

No universo de entrevistados que ainda não tiveram nenhuma experiência com o serviço, 44% consideram provável usar a telemedicina. Quando questionados sobre os fatores que motivariam a usar a telemedicina, eles apontaram: fácil acesso a um especialista específico, menor custo de atendimento, ter o problema de saúde solucionado com eficiência e acompanhamento próximo do médico para o seu caso.

A pesquisa da Conexa mostrou que, entre as especialidades mais procuradas por quem já experimentou a telemedicina, há uma preocupação com a saúde em geral, com destaque para saúde mental e nutricional: um terço das consultas (32%) ocorre na área de clínica geral, seguida de psicologia/psicanálise (28%) e nutricionista (9%). 

O levantamento indicou que 61% gostam de ter o acompanhamento do profissional de saúde por meio da ferramenta. Aqueles que já foram atendidos remotamente estão abertos a adotar a telemedicina como um hábito: 73% dos consultados voltariam a realizar consultas de saúde por videochamada.

O estudo ainda detectou que, atualmente, 41% dos entrevistados acreditam que uma emergência em saúde pode ser resolvida pela telemedicina.

Entre os médicos, 68% acreditam que um excelente atendimento se caracteriza pelo acesso dos pacientes aos especialistas em saúde. Também 68% afirmam que a telemedicina oferece melhor acesso. A pesquisa também apontou que mais de 60% dos médicos afirmam considerar a telemedicina em um futuro próximo.

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(Foto: Freepik)

Telemedicina no Brasil: mercado e próximos passos

Somente a Conexa Saúde – que está há quatro anos no mercado – realizou em 2020 dois milhões de teleconsultas. Impulsionada pela pandemia, saltou de 150 para 200 mil consultas mensais. Neste período, cerca de 35% do atendimento estava relacionado ao coronavírus. Além do primeiro atendimento por teleconsulta, com frequência aconteceram encaminhamentos para uma sequência da jornada do paciente, seja para um serviço digital especializado ou um acompanhamento para um pronto-socorro físico ou mesmo serviços especializados presenciais, quando o atendimento digital não foi resolutivo. Mas, de acordo com a Conexa, grande parte dos atendimentos realizados no ano passado ofereceu a solução adequada de forma virtual. 

Atualmente, a empresa gerencia 6,5 milhões de pacientes com a ajuda de 48 mil profissionais de saúde, em 23 especialidades. Em 2020, a empresa contou com o investimento de R$ 40 milhões, da General Atlantic, Igah Ventures e família Fraga, sendo que o valor pode chegar a R$ 140 milhões nos próximos três anos. Antes desta captação, a startup já tinha recebido R$ 5 milhões em duas rodadas de captação (seed money) e uma da Igah Ventures. 

Isto mostra o potencial que o mercado de telemedicina e de saúde digital – por meio de uma série de ferramentas e soluções – pode alcançar e já vem atingindo. A pandemia escancarou as oportunidades neste setor. 

Na opinião de Guilherme Weigert, CEO da Conexa Saúde, o produto telemedicina delineado pré-pandemia se adequou bem ao momento e às demandas. E mostrou quantos pacientes poderiam se beneficiar de um atendimento especializado, e que ainda não têm acesso a isso.

Weigert acredita que a telemedicina veio para ficar e pode ajudar na democratização do acesso à saúde e na própria gestão de saúde do paciente. O atendimento a distância pode auxiliar até mesmo na redução de custos, apenas com encaminhamentos necessários para a sequência do tratamento.

Além desse caminho que está sendo trilhado e consolidado, o setor também está se voltando para a saúde digital, em uma visão mais ampla.

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p class=”ql-align-center”>Guilherme Weigert (Foto: Divulgação)

“A telemedicina deixou de ser a solução fim para se tornar a atividade meio. A visão é para a saúde digital, oferecendo um cuidado mais amplo ao paciente, e não apenas a teleconsulta. Em termos de saúde digital, ainda temos muito a desenvolver, com cuidados específicos, como saúde mental, cuidado nutricional, o próprio pronto atendimento virtual. Há ainda muito espaço na saúde digital para de fato democratizar o acesso à saúde de qualidade”, avalia. 

De acordo com ele, a próxima fase é começar a maturar mais outras jornadas do paciente, como as destinadas aos doentes crônicos, com programas específicos para aqueles com doenças que já estão consolidadas.

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