Obesidade: “o preço é bastante alto”

    A obesidade é considerada um problema de saúde pública em todo o mundo, como mostrou a primeira reportagem desta série publicada pelo portal Saúde Debate em parceria com a Revista Ampla. Nesta publicação, é possível conferir que a obesidade pode gerar uma série de complicações para a saúde, independentemente da idade.

    De acordo o cirurgião-geral Roberto Rizzi, “o preço da obesidade é bastante alto. São várias as doenças relacionadas e, algumas vezes, negligenciadas, pelo fato de não apresentarem sintomas imediatos, como é o caso da resistência insulínica, que é diabete tipo 2 disfarçada”, explica. Outro grande problema é a síndrome metabólica que inclui hipertensão arterial, nível elevado de açúcar no sangue, excesso de gordura corporal em torno da cintura e níveis de colesterol anormais, aumentando o risco de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral. Insônia, câncer, infertilidade, infecções de pele, úlceras gástricas, depressão, complicações renais, má circulação periférica e artroses também compõem a lista de doenças relacionadas à obesidade.

    Há, ainda, a esfera emocional que pode tornar o processo um círculo vicioso. O emocional prejudica o físico e o físico abala o emocional. Isso sem contar na exclusão social, pela qual muitos obesos passam, fazendo com que a vida fique mais restrita, dificultando até o acesso e o desenvolvimento profissional. Isso porque a obesidade é, muitas vezes, mal interpretada, fazendo com que se questione até a capacidade produtiva do indivíduo no mercado de trabalho.

    No campo pessoal, o lazer e os relacionamentos, muitas vezes, são prejudicados. Isso porque atividades simples para a maioria das pessoas, como uma ida ao cinema ou uma viagem, podem ser mais complicadas para o obeso. A qualidade de vida sofre em vários sentidos, porque tudo precisa ser repensado. Em casos de obesidade infantil, as crianças, não raro, passam por problemas com bullying e discriminação, levando ao desejo de abandonar a escola.

    Obesidade: tratamento

    Por tudo isso, a busca por ajuda é fundamental. O tratamento para reverter a obesidade é bastante complexo, pois demanda uma abordagem multidisciplinar, que passa pela combinação de dietas de baixa caloria, acompanhamento psicológico, mudança de hábitos e de comportamento, aumento da atividade física e, em alguns casos, a cirurgia bariátrica. Para os médicos, é fundamental que as pessoas entendam que, independentemente, da solução adotada, não há outro caminho que não seja redução alimentar e atividade física, dois fatores fundamentais para reversão do quadro de excesso de peso.

    Cirurgia Bariátrica

    De acordo com o cirurgião do Aparelho Digestivo Rodrigo Strobel, a indicação para o procedimento cirúrgico baseia-se principalmente no cálculo do IMC. “Se esse valor for acima de 40, o paciente passa a ter a indicação de realizar a cirurgia bariátrica, mas se ele for entre 35 e 40 e o paciente já tiver comorbidades, que são aquelas doenças que vêm com o ganho de peso, passa a ter a indicação cirúrgica também”.

    Strobel alerta para o fato de que o paciente deve compreender que é essa cirurgia exige mudança de hábitos por toda a vida. Considerada uma cirurgia de grande porte, carrega consigo a necessidade de acompanhamento pré e pós-operatório com equipe multidisciplinar, ou seja, é uma mudança de estilo de vida que vai exigir demanda no longo prazo, cuidados com a alimentação, reposição de vitaminas, e atividade física para ter o sucesso com a perda de peso. “Para pacientes com obesidade severa [grau 3, que são pessoas com índice IMC a cima de 40], o melhor resultado de perda de peso de longo prazo é por meio da bariátrica. Ela é bastante superior em relação ao tratamento clínico, quando a pessoa necessita eliminar de 30 a 40 quilos, ou até mais”, explica.

    Segundo o cirurgião, o procedimento também melhora quadros como “diabetes, pressão alta, apneia do sono, gordura do fígado–conhecida como esteatose hepática-problemas articulares como artrose de joelho e de tornozelo, problemas de quadril e de coluna, além de diminuir muito o nível de triglicerídeos e colesterol. Sem contar que o processo de emagrecimento aumenta, consideravelmente, a autoestima”, completa.

    O sucesso do procedimento na reversão do quadro da obesidade também tem relação com questões hormonais, que são muito importantes na mudança do metabolismo após a cirurgia bariátrica. Essa mudança no metabolismo é o segredo da perda de peso a longo prazo. “A alteração metabólica, que chega a ser hormonal, é alterada pela função de alguns hormônios que são produzidos ou inibidos no estômago, e no intestino. Esses hormônios ‘conversam’ com o fígado, com o pâncreas, com a gordura marrom que manda no nosso metabolismo, com a hipófise, e, com isso, conseguem fazer um processo de regulação, inibindo fortemente a fome”, conta.

    Isso vai facilitar o indivíduo no processo de “reeducação corporal”, o que deve incluir além da dieta, também a adoção de atividade física. Algumas pessoas, mesmo após fazerem a bariátrica, voltam a engordar, por não seguirem as recomendações gerais que incluem, reeducação alimentar e atividade física, após a liberação médica.