O câncer está na cara, mas às vezes você não vê

No dia 27 de julho é lembrado o Dia Mundial da Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço e a Associação de Câncer de Boca e Garganta, aqui no Brasil, faz uma campanha neste mês de julho intitulada de Julho Verde, para esclarecer junto à população a prevenção, por meio de consulta médica e exames, os caminhos para o tratamento desta doença. O câncer de cabeça e pescoço é a terceira maior incidência de câncer no Brasil, e deve representar quase oito por cento dos novos casos este ano, segundo as informações do INCA, Instituto Nacional do Câncer.

A Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, SBFa, está realizando uma campanha em todo o Brasil para trazer mais perto da população muitas informações para instrumentalizar na conscientização, enfrentamento e mostrar as formas de tratamento, com a intenção de reduzir a incidência de mortalidade do câncer.

Esta campanha está sendo divulgada amplamente por várias associações, como por exemplo, além da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, a Sociedade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. O slogan desta campanha é: “O Câncer está na cara, mas às vezes você não vê”, pois os sinais mais simples da doença passam despercebidos.

O câncer de cabeça e pescoço abrange a boca: língua, lábios, mandíbula, palato (céu da boca), bochechas, queixo, a face como um todo, faringe, véo-palatino (também chamada de campainha) e garganta como a laringe. A prevalência do deste tipo de câncer, segundo o INCA, mostra que o sexo masculino é o quinto maior em incidência e que a estimativa para 2020 é de 11.000 novos casos para o sexo masculino e 11.000 novos casos para o sexo feminino. Os homens têm maior incidência de câncer de boca e laringe, já as mulheres apresentam maior incidência do câncer de tireóide, o qual é normalmente detectado quando as consultas médicas e exames preventivos da ginecologia são realizados.

Atualmente, a mortalidade é relativamente baixa, devido ao diagnóstico precoce, o qual é realizado por meio das consultas médicas de rotina e exames laboratoriais e de imagens, incidindo em taxas de cura de noventa por cento dos casos. O tratamento precoce propicia tratamentos mais brandos, reduzindo muito as sequelas deixadas pelo tratamento cirúrgico.

Os fatores de risco que expõem os indivíduos ao câncer são:

1) álcool, bebidas destiladas e levedadas em geral;

2) tabagismo, todos os tipos e formas utilizadas para fumar; o tabagismo ativo, onde o fumante traga; e o passivo, onde o indivíduo respira a fumaça do fumante passivo;

3) as drogas, as quais utilizam a forma de cigarros e cachimbos;

4) exposição solar levando ao câncer de pele e lábios;

5) o negligenciamento de pequenas feridas que não fecham por um tempo prolongado e aumentam com o passar do tempo, pois não se dá a atenção devida para tratá-la adequadamente buscando o médico junto aos postos de saúde;

6) próteses dentárias (dentaduras) mal adaptadas, que machucam por longo tempo causando feridas;

7) alimentos com conservantes e ultra-processados, como salgadinhos, achocolatados, sucos e refrigerantes, que também podem estar associados a fatores desencadeantes.

Os sinais e sintomas que podem aparecer nos dando dicas de que você deve procurar um médico para verificar o que está acontecendo:

1) rouquidão que permanece por mais de 15 dias sem uma causa aparente;

2) dificuldades para engolir os alimentos;

3) dor ao engolir os alimentos ou líquidos em geral;

4) se afogar com os alimentos constantemente;

5) feridas recorrentes na boca que não cicatrizam ou vão e voltam sempre no mesmo lugar;

6) nódulos ou bolas no pescoço, também conhecidos como ínguas nesta região;

7) aumento de volume em cabeça e pescoço com ou sem dor;

8) perda de peso, emagrecimento rápido sem dieta prévia;

9) dificuldades para respirar;

10) histórico de câncer na família.

A preocupação por parte dos profissionais é grande com o câncer de cabeça e pescoço, pois esta região causa um impacto muito grande na sociabilização, estética e para que o indivíduo possa executar as funções de fala, mastigação, deglutição, voz e respiração. Por isso, torna-se imprescindível que as pessoas que tenham alguns destes sinais e sintomas procurem sempre na fase inicial o médico, o qual pode encaminhar ao tratamento adequado e evitar o grau elevado nas sequelas.

Podemos citar aqui para ilustrar o caso que foi amplamente divulgado pela imprensa e redes sociais da atriz Heloisa Périssé, a qual relata ter sentido uma bolinha na boca, sendo o primeiro sinal da formação de um tumor em glândula parótida, salivar, e posteriormente no pescoço. Ela esclarece nas redes sociais e faz um alerta quanto ao risco da doença. A mesma relata que em visita de rotina ao dentista foi detectado o tumor e tratado precocemente. Mesmo precocemente, a sua fala apresenta alteração em função do tratamento cirúrgico dos tumores.

O tamanho, bem como o grau de agressividade do tumor, também interfere na abordagem do tratamento para a doença, levando a impactar muito as funções já comentadas, como, por exemplo, as amplas remoções de língua ou retiradas totais, prejudicando severamente a fala e a deglutição; a remoção total da laringe, impactando a voz e a respiração com o uso de cânulas de traqueostomias para o resto da vida. Muitas vezes, dependendo da localização do tumor, pode afetar também ao ouvido, gerando problemas de surdez, zumbido e outros sintomas.

Antes ou após o tratamento cirúrgico, de acordo com a decisão da equipe médica, o paciente pode ser direcionado aos tratamentos adjuvantes como: a radioterapia, quimioterapia e imunoterapia, as quais seguem o protocolo de preservação de órgãos, na tentativa de minimizar o as áreas de remoção cirúrgica e preservar áreas de tecidos do corpo. Estes tratamentos também trazem algumas situações desconfortáveis, como a xerostomia, também conhecida como secura salivar, e perdas dentárias, entre outras.

Os Serviços de Atendimento ao paciente canceroso contam com a formação de equipe multiprofissional, dentre as quais participam de modo representativo na reabilitação o fonoaudiólogo, o fisioterapeuta, o nutricionista, o psicoterapeuta, o dentista, o cirurgião plástico, o protético, o terapeuta ocupacional, o enfermeiro e tantos outros que realizam um belo trabalho para adaptar estes indivíduos acometidos pelo câncer, minimizando o impacto e sequelas do tratamento, ajudando na retomada de sua vida pessoal, familiar, profissional e social. Esta intervenção da equipe multiprofissional inicia na chegada do paciente ao Serviço de Atendimentos junto à rede pública ou privada.

Esta campanha visa mostrar à população que o mais importante é prevenir, evitando os hábitos nocivos à saúde e buscar hábitos saudáveis, contando sempre com a ajuda do médico.

* Dra. Carla Maffei é Fonoaudióloga com atuação clínica e hospitalar voltada ao Câncer de Cabeça e Pescoço em unidades hospitalares do Paraná

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