O filósofo alemão Friedrich Nietzsche inventou o conceito de “grande saúde” para expressar a capacidade de enfrentamento das doenças, compreendendo que elas fazem parte da existência e podem contribuir para o fortalecimento das forças vitais. Uma “grande saúde”, assim, seria um tipo de saúde que não se tem de uma vez por todas, mas que se perde e se conquista sempre de novo, como ele mesmo escreveu.
A ideia por trás desse conceito é a de que a doença (qualquer que ela seja: física, psicológica, moral…) é parte da existência. Onde há vida há chance de adoecimento, ao mesmo tempo em que onde há vida há forças suficientes para o enfrentamento e a superação da doença. A ideia aqui é bastante conhecida: aquilo não me mata me fortalece. Ou seja: se estou vivo, é porque fui capaz de superar as ameaças existenciais que poderiam me destruir, mas que não o fizeram porque eu sou forte o suficiente para vencê-las. Viver é resistir.
Para Nietzsche, por isso, antes de lamentarmos uma doença ou nos rendermos a ela, devemos reconhecer que, por meio dela, a vida nos dá a chance de fortalecer ainda mais as nossas forças vitais. Lutar contra a doença é o meio de provar nossas forças, de arriscar um lance ainda mais alto, de aproveitar a situação para fortalecer os nossos “músculos”. Afinal, quem nunca carrega peso, não vai conseguir a força necessária para erguê-los quando for necessário e urgente. Por isso, bom mesmo é erguer um pouco de peso todos os dias, a fim de fortalecer o corpo e estar preparado para erguer os pesos que a vida nos impõe – entre eles as doenças que podem aparecer a qualquer momento, porque somos organismos suscetíveis ao mundo que nos cerca e seus efeitos.
Para Nietzsche, a melhor maneira de estar saudável não é nunca ficar doente, mas conseguir fazer da doença uma forma de revigoramento das forças vitais. Em outras palavras, poderíamos perguntar: quem é mais saudável, quem nunca ficou doente ou quem já foi testado e venceu a doença?
Não se trata de desejar a doença. É óbvio que não. A ideia aqui é não despertar jamais. Ao contrário, encontrar em todas as ocasiões motivos para viver com mais intensidade, experimentando tudo com altivez e coragem. Essa é a única maneira de vencermos as situações que nos interpelam diariamente e que exigem de nós mais do que uma simples saúde, mas uma “grande saúde” – uma saúde que inclui as doenças sobre as quais saímos vitoriosos.