CoronaVac para crianças vai permitir avanço da proteção coletiva

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso da CoronaVac para crianças e adolescentes de seis a 17 anos. A decisão ocorreu nesta quinta-feira (20 de janeiro). Houve apenas a restrição de uso deste imunizante em pessoas imunossuprimidas, ou seja, que têm baixa imunidade. Serão duas aplicações, com um intervalo de 28 dias, como acontece com os adultos. Também será a mesma vacina utilizada em outras faixas etárias. 

Para o médico infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, diretor médico do laboratório Hilab, de Curitiba (PR), a proteção para as crianças é necessária. A aplicação da vacina causa benefícios individuais e coletivos, permitindo o avanço da imunização da população em geral e reduzindo a transmissão do coronavírus. 

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“Você tem um benefício óbvio, que é a proteção individual dessas crianças. Apesar de existir uma chance menor de complicações nesta faixa etária, se for olhar para o somatório, ele culminou em mais de mil crianças e adolescentes que faleceram por conta do coronavírus. A Covid-19 passou a estar entre as principais causas de óbitos em crianças”, destaca em entrevista ao Saúde Debate. “Há um impacto positivo no curto prazo, para reduzir a transmissão. E as crianças que já tiveram a Covid-19 – muitas nem sabem disso porque boa parte é assintomática – se beneficiam mais, pois podem gerar imunidade híbrida. Ou seja, vinda da infecção e da imunidade vacinal. Sabe-se que esta imunidade é mais potente, superior e mais duradoura”, afirma. 

Na avaliação de Almeida, este contexto tende a impactar a imunidade coletiva e encurtar o período da pandemia. “E poderia existir uma diminuição do pico da atual onda de Covid-19 se esse perfil de imunidade nesta faixa da população estivesse de forma mais adiantada”, considera. 

Antes do anúncio da liberação para a CoronaVac para crianças, a estimativa era de vacinar todo o público de cinco a 11 anos entre dois a três meses. Tudo dependeria do envio das doses da Pfizer específica para esta faixa etária. 

A médica Ekaterini Goudouris, do Grupo de Trabalho Covid-19 da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), explicou à reportagem do Saúde Debate que a liberação da CoronaVac para as crianças e adolescentes foi recebida com otimismo. “Ficarmos dependentes de apenas um fabricante para vacinar as crianças é um pouco complicado. A gente sabe que a CoronaVac tem sido usada em países asiáticos e no Chile com segurança. Esta é uma vacina segura. Diante do contexto com uma vacina que já temos em território nacional, liberada para uma população, do jeito que a pandemia está caminhando e precisando vacinar o mais rápido possível, então foi uma boa notícia”, classifica.

A CoronaVac para crianças e adolescentes será a mesma aplicada nos adultos, diferente da vacina da Pfizer – até então a única liberada para a imunização deste público -, que tem uma versão pediátrica para o grupo de cinco a 11 anos. Segundo Ekaterini, não existe qualquer problema em utilizar a mesma vacina dos adultos. 

A médica salienta que boa parte das vacinas disponíveis não apresenta diferença entre dose pediátrica e dose para outras faixas etárias. “Existem vacinas, como a contra difteria ou a tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche), com diferenças quando você aplica em crianças e em adultos, inclusive de composição e quantidade. Agora, não há diferença na dosagem quando se aplica as vacinas contra o sarampo, rubéola e caxumba, por exemplo. Então, não é necessário que uma vacina tenha uma dose pediátrica”, explica. 

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(Foto: Freepik)

Imunossuprimidos

Sobre o anúncio da CoronaVac para crianças, Ekaterini Goudouris comentou sobre a “restrição” para os imunossuprimidos. Na sua avaliação, a comunicação deste fato poderia ter sido diferente, para não dar impressão que a vacina é proibida para este público. “Poderia ser dito que a vacina, talvez, não seja adequada para crianças imunocomprometidas porque ainda não existem estudos e dados de eficácia especificamente sobre esse grupo da população. Sabe-se que o risco é nenhum, mas não tem estudo de eficácia”, indica. “Ou ainda que a vacina pediátrica da Pfizer possui mais dados sobre pacientes imunossuprimidos e, por isso, se dá preferência por ela”, sugere. 

No entanto, a CoronaVac foi aplicada em pacientes adultos imunossuprimidos no início da vacinação contra a Covid-19. Eles formaram um dos grupos prioritários e receberam a vacina ainda no início de 2021. “Naquele momento, ninguém questionou a ausência de dados em imunocomprometidos adultos e a gente também não tinha esses dados. Só sabia que ela era segura e foi aplicada porque era uma população de risco. Não existia outra opção. Então, não significa que ela não pode ser aplicada, mas que outra pode ser melhor”, opina. 

Ekaterini Goudouris ainda lembra que, em alguns casos, como o de crianças com defeito imunológico congênito, não há dados sobre nenhum tipo de vacinação sobre este público específico. No entanto, essas crianças são vacinadas de qualquer forma, com imunizantes seguros, mesmo contanto que – talvez – elas não tenham a mesma resposta de outros indivíduos da mesma idade. 

Sobre a liberação da CoronaVac para crianças, o Instituto Butantan, responsável pelo imunizante, divulgou a seguinte nota:

O Butantan informa que nesta quinta-feira (20) foi aprovado, por unanimidade, o uso emergencial da vacina CoronaVac, produzida pelo instituto em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac, para aplicação em crianças e adolescentes brasileiros de 6 a 17 anos. 

A autorização ocorreu após avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao pedido enviado pelo instituto em 15 de dezembro de 2021, embasado em estudos de segurança e resposta imunológica vindos de países como Chile, China, África do Sul, Tailândia e também do Brasil. 

A CoronaVac é cientificamente comprovada como a vacina mais segura e com menos efeitos adversos, além de ser a vacina mais utilizada em todo o mundo, com mais de 211 milhões de doses administradas no público infantil e juvenil (de 3 a 17 anos) somente na China. 

O Instituto Butantan, que há 120 anos trabalha a serviço da vida, está preparado para fazer parte de mais esta batalha para derrotar o vírus da Covid-19 no país.

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