Como superar a pandemia sem descuidar das outras doenças: quando procurar atendimento?

Cinco meses da pandemia da Covid-19 no Brasil e talvez o tema saúde nunca tenha sido tão falado como agora. Apesar disso, ainda há confusão sobre como superar a pandemia sem descuidar das outras doenças, ou seja, quando procurar atendimento em situações diversas ao novo coronavírus.

Em um ano atípico por conta da pandemia, é importante esclarecer quando é justamente o momento certo de procurar atendimento médico, quando outras partes do corpo dão sinais de que não estão funcionando bem. A queda de mais da metade do número de atendimentos em hospitais especializados em vários estados já acendeu a luz amarela sobre o risco de uma terceira onda da pandemia gerada pelo agravamento de doenças não diagnosticadas ou que tiveram o tratamento interrompido durante a quarentena.

 

O primeiro passo para evitar dores e complicações desnecessárias é entender os sinais. Dores no mesmo local por mais de três dias, falta de ar, dificuldade na fala, formigamento, sangue na urina, febre e vômitos são algumas características que não podem ser negligenciadas. Em alguns casos, o adiamento do atendimento médico pode ter consequências irreversíveis, como no caso de um AVC (Acidente Vascular Cerebral): a cada hora perdida de tratamento representa a morte de 120 milhões de neurônios.

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Confira outros aspectos a serem observados em áreas importantes da saúde e quando procurar atendimento sem descuidar de outras doenças:

Neurologia – Perda de força, fraqueza ou formigamento de um lado do corpo podem ser sinais de AVC

A médica Lívia Figueiredo, neurologista e coordenadora do serviço de neurologia do Hospital Marcelino Champagnat, explica alguns sintomas que necessitam de atendimento imediato, em função de serem sinais indicativos de AVC, a segunda maior causa de morte no Brasil. Alteração da fala ou dificuldade em pronunciar as palavras, boca torta, alteração de visão podem ser sintomas de AVC e o serviço médico tem que ser procurado de forma imediata, de preferência em um local que tenha atendimento especializado em neurologia.

Também não dá para ignorar características que surgem subitamente como: perda de força, fraqueza ou formigamento de um lado do corpo. “O AVC tem tratamento e quanto mais cedo for iniciado, maiores as chances de recuperação e menores as sequelas. A cada hora perdida de tratamento, 120 milhões de neurônios morrem. Então o AVC é uma emergência, não pode esperar”, ressalta. A médica confirma ainda que há estudos recentes que apontam algum aumento de incidência de AVC em pacientes que têm Covid-19. “O tempo frio aumenta a preocupação com o coronavírus e com o maior risco de AVC, por conta da constrição dos vasos sanguíneos. Também merece atenção a crise convulsiva, seja a primeira ou uma mudança no padrão de crise de quem já tem, precisa ser investigado porque pode haver alguma doença por trás que esteja causando essa alteração”, acrescenta.

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Cardiologia – Falta de ar e dor no peito que irradia para os braços e o queixo exigem atendimento imediato

A médica cardiologista do hospital Marcelino Champagnat, Lidia Zytynski Moura, possui na ponta da língua as principais características de problemas cardíacos que precisam de um atendimento especializado. “A piora da falta de ar, dor no peito, em especial, as dores que irradiam para os braços e para o queixo e, principalmente, desmaios”, explica. “É importante que diante desses sintomas você procure seu médico quer seja por telefone ou via telemedicina, principalmente em caso de piora”, recomenda. Ela também defende que pacientes que já possuem doenças cardíacas ou doenças crônicas precisam redobrar os cuidados neste período. “É importante manter os seus tratamentos, manter-se atento à glicemia, se for diabético, manter-se atento aos níveis de pressão arterial se você for hipertenso e tomar a medicação exatamente conforme foi prescrita pelo médico”.

Cirurgia geral – Dor no lado direito da região abdominal pode ser caso cirúrgico

Para o médico Wagner H. Sobottka, cirurgião geral e coordenador do serviço de emergência do Hospital Marcelino Champagnat, qualquer pessoa com dor na região abdominal do lado direito deve procurar o pronto atendimento. “Quanto antes for feito o diagnóstico, antes será realizada a cirurgia, um tratamento cirúrgico mais eficiente e o paciente fica menos tempo internado, facilitando a recuperação no pós-operatório”, esclarece.

Segundo ele, uma infecção no cólon, uma colecistite aguda, diagnosticada precocemente possui um tratamento cirúrgico muito efetivo com baixo índice de complicação. “É preciso sempre prestar atenção aos seguintes sintomas abdominais: náuseas, vômitos, dores abdominais, febre, diarreia, mudanças no funcionamento do intestino”, destaca. No caso de dores na parte superior do abdômen, a dor pode estar relacionada às pedras nas vesículas (pancreatite aguda). Já na região inferior direita do abdômen, se associado à febre, falta de apetite e mal-estar, o quadro pode ser de apendicite. “Apendicite aguda pode trazer complicações e um quadro infeccioso grave, que apresenta um risco de mortalidade se não for tratado adequadamente”, alerta.

Urologia – Forte dor na região lombar e aumento na frequência urinária associados à febre podem ser sinais de cálculo urinário

O médico urologista Mark Neumaier explica que, além dos riscos para a saúde, negligenciar os sinais de problemas nessa região acarretam em um sofrimento desnecessário, em função da dor gerada. Alguns sinais de alerta para doenças do sistema urinário são: sangue na urina, incontinência urinária, forte dor na região lombar e febre. “Dor nas costas, na altura das costelas, de forte intensidade e muitas vezes associada ao aumento da frequência urinária. Esse sintoma é muito comum e relacionado ao cálculo urinário. Se não for reconhecido e tratado pode trazer consequências, inclusive, irreversíveis”, informa. O médico também faz um apelo sobre o aumento de pessoas trabalhando home office e o risco para a saúde. “Tenho notado que muitas pessoas deixam de se levantar, passam mais tempo sentadas, inclusive, deixam de se hidratar adequadamente, e isso favorece algumas doenças específicas como infecção urinária. A cada hora sentado, procure levantar, estipular metas de ingestão de líquidos. Pelo menos dois litros e meio de água por dia”, indica.

Ortopedia –  Uma dor que dura mais de três dias e não melhora deve ser atendida por um especialista

O ortopedista, especialista em cirurgia de coluna, Antônio Krieger, também vê com preocupação as consequências do isolamento social e do home office para a integridade da coluna vertebral. “Nem toda casa tem a ergonomia e o escritório perfeito para que se possa trabalhar durante seis, oito horas sentado. O desktop que permitia uma visão na mesma altura do monitor foi trocado por um notebook que muitas vezes exige uma flexão do pescoço e com isso começaram a surgir sintomas de cervicalgia, dor no pescoço e dor lombar”, aponta.

Sobre a dúvida de quando ir ao hospital ele diz que os sintomas que o paciente precisa estar bastante atento são: uma dor que dura mais de três dias e não melhora. “Seja uma dor na cabeça ou nas costas, tomou um analgésico e melhorou, não é o caso de buscar o hospital. Agora uma dor que já durou três dias, uma semana, uma dor limitante, que não lhe permite ficar longos períodos em pé ou sentado, perda de força nos membros, precisa”, compara.

O ortopedista Thiago Fuchs, que atua nas áreas de cirurgia de joelho e quadril, diz que as mudanças na vida, nos hábitos e rotinas, nessa época de pandemia, vão impactar em aumento nos problemas ortopédicos. Nas articulações de carga, como o joelho e o quadril, é importante procurar o médico em caso de dores articulares relacionadas aos movimentos ou de ficar muito tempo sentados. “Aquela dor que lhe incomoda todos os dias, aquela dificuldade de calçar os sapatos ou realizar atividades simples do dia a dia são sintomas e sinais clínicos que não devem ser deixados de lado e que, algumas vezes, quando se passa muito tempo daquele sinal ou sintoma, o tratamento fica muito mais difícil, complicado e, muitas vezes, necessita de uma cirurgia”, afirma.

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