Como pensar no bem-estar e na saúde mental das crianças

A pandemia deixou muitas lições e uma delas é como pensar no bem-estar e na saúde mental das crianças. Elas também foram afetadas diretamente pelo isolamento, pelo distanciamento social, pelas mudanças repentinas, pelo medo, ansiedade e angústia. Saber lidar com as emoções de crianças e adolescentes se tornou mais do que essencial. Além disso, especialistas mostram como também é importante ensiná-los a aprender a entender os próprios sentimentos. “A pandemia trouxe uma série de perdas, além das mortes de pessoas queridas. Aulas online, encontros virtuais, falta de interações pessoais, impossibilidade de contatos com amigos e familiares que não moram na mesma casa. Isso tudo gera uma ansiedade além do normal, podendo afetar a vida de crianças e adolescentes por um bom tempo ainda pós-pandemia, do ponto da saúde física e mental”, explica a médica pediatra Felícia Szeles, de São Paulo (SP).

Para a psicóloga Alice Munguba, especialista em clínica psicanalítica infantil na Holiste Psiquiatria, de Salvador (BA), o cuidado com a saúde mental deve ser um hábito adquirido desde a infância. E isto deve ser construído com o auxílio dos pais. Por isso, é essencial que esteja na pauta como pensar no bem-estar e na saúde mental das crianças. Um dos primeiros passos é conversar sobre o tema com as crianças, sempre lembrando que os pequenos são indivíduos pensantes. “Pode parecer simples, mas há poucas décadas as falas das crianças eram desconsideradas, muitas vezes reprimidas ou desqualificadas. Tratar de saúde mental com a criança é, em primeiro lugar, dar existência à saúde mental dela. Por isso, na hora de conversar com a criança é preciso dar valor aos seus sentimentos e a tratar como o sujeito pensante. Este já é um modo de dar existência à saúde mental dos pequenos”, explica a psicóloga.

Leia também – Pandemia e saúde mental: como retomar o equilíbrio?

Leia também – Como estimular a autonomia das crianças desde cedo

Leia também – Atividade física deve fazer parte da rotina das crianças durante isolamento

A partir da ciência de como pensar no bem-estar e na saúde mental das crianças, os pais precisam ler as emoções das crianças. Existem inúmeras situações em que elas vão chorar, sentir medo, demonstrar pressa, entre tantos sentimentos. Cabe aos pais explicar o que elas estão sentido e isso vai ajudá-las a lidar com essas emoções. É primordial que o adulto não ignore o que a criança pensa e diz. Se isso acontece, perde-se a oportunidade de a criança entender os próprios sentimentos no que acontece no dia a dia. “No entanto, ouvir a criança e considerar suas emoções também não significa fazer tudo o que ela quer e se tornar refém das suas vontades. Ouvir e dar valor à sua fala significa que o adulto está dando uma dignidade de sujeito a esse ser humano que está se estruturando subjetivamente”, avisa.

Todo o processo de como pensar no bem-estar e na saúde mental das crianças passa também em uma adaptação dos pais. Um exemplo disto, de acordo com a psicóloga, a programação de um tempo realmente de qualidade com os filhos. E a atividade em si é o menos importante. “O que está em jogo é a qualidade da atenção que os adultos podem dar à criança enquanto estão brincando, jogando com ela. O quanto se importam e aproveitam estar na companhia dos filhos”, ressalta.

Alice ainda enfatiza a importância de manter a criança ciente que ela é amada pelos pais. “Quando os pais passam por problemas, é comum que tenham menos paciência ou tolerância. Contudo, há algo que deve permanecer estável na vida das crianças: o desejo dos pais em tê-las na sua vida apesar de qualquer circunstância. Quando a criança percebe que os pais não a suportam ou quando eles se acham um peso, isso causa um ambiente muito inseguro emocionalmente”, explica.

E como agir quando a criança apresenta sintomas de ansiedade?

A pandemia e tantas outras situações podem desencadear diferentes emoções e até mesmo reações físicas, como taquicardia, respiração acelerada e falta de sono. Ou ainda dificuldade de concentração e perda de memória. O processo de como pensar no bem-estar e na saúde mental das crianças também leva a uma observação sobre esses efeitos. “A infância e adolescência são fases que pedem muito estímulo social para o desenvolvimento cognitivo. Por isso, um dos grandes desafios dos pais é adaptar ao máximo as situações e sempre falar sobre sentimentos e emoções, para que os filhos consigam identificar melhor o que sentem”, diz Felícia Szeles.

De acordo com ela, os cuidados com a ansiedade nesta fase da vida devem ser redobrados porque crianças e adolescentes possuem menos “repertório” para lidar com estas questões. Por isso, o ideal é estar próximo deles, conversando, e identificando possíveis problemas e sintomas. A médica ainda revela que estimular prática de atividades físicas de esportes (seguindo protocolos de prevenção à Covid-19) e uma rotina saudável com horários para estudos, lazer, uma boa alimentação e uma boa noite de sono também são importantes.

“Se notar algum desses sintomas ou comportamentos diferentes no seu filho, converse imediatamente com o pediatra para que possam ter um diagnóstico mais assertivo e começar a cuidar de forma breve. Os tratamentos podem variar desde pequenas mudanças de rotina até terapia e remédios”, completa a pediatra. Também existem psicólogos especializados em crianças que podem oferecer apoio ao desenvolvimento dos pequenos e respaldo às ações dos responsáveis. Assim como uma visita ao pediatra, a ida ao consultório do psicólogo pode acontecer em diferentes etapas, contudo, alguns sinais indicam alguma urgência. “Quando a criança apresentar sintomas, sejam físicos ou comportamentais, como fobias, tiques, insônia, perda severa de apetite ou outros fatores que afetam as atividades do dia a dia, é importante buscar a ajuda de um psicólogo com especialização em clínica infantil ou com experiência no atendimento de crianças”, indica Alice Munguba.

* Com informações das assessorias de imprensa

Leia também – Transtornos mentais são um dos efeitos colaterais da pandemia

Leia também – Criança e celular: até que ponto as telas realmente são prejudiciais a elas?