A importância do apoio para quem quer deixar de fumar

O aposentado José Benedito Neves, de 71 anos, relatou a dificuldade que está enfrentando para parar de fumar, após quase seis décadas consumindo cigarros. A declaração dele está na reportagem do Saúde Debate sobre o tabagismo no período da pandemia – um motivo para continuar fumando ou para deixar o cigarro. Os custos gerados pelo vício e os pedidos da família para largar definitivamente o convenceram a dar os primeiros passos, mas as dificuldades vieram. Não é apenas no caso de Neves. A maior parte dos fumantes passa por isso, o que reforça ainda mais a importância do apoio para quem quer deixar de fumar.

A família do aposentado já tinha participado de programas da Unimed Curitiba voltados para o estímulo de hábitos saudáveis e bem-estar. Foi quando surgiu a ideia de Neves participar do projeto “Você sem Cigarro”, que dá apoio para quem deseja parar de fumar. Neste momento, os beneficiários contam com apoio on-line de uma equipe multidisciplinar, especializada neste tratamento. Os encontros semanais acontecem via videoconferência. Além disso, os participantes trocam experiências e recebem informações, lembretes e materiais didáticos pelo Whatsapp.

“Quero parar de vez, mas é muito tempo fumando. Sei que depende de mim, mas também vou precisar de ajuda”, revela o aposentado, que iniciou o processo e diminuiu a quantidade de cigarros por dia.

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O médico pneumologista Jonatas Reichert, cooperado da Unimed Curitiba e ex-presidente da Sociedade Paranaense de Pneumologia e ex-coordenador das comissões de tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e da Associação Médica Brasileira, reforça a importância do apoio para quem quer deixar de fumar. De acordo com ele, este não é um processo nada fácil por envolver a dependência de uma série de substâncias tóxicas. Por isto, para largar o cigarro não basta apenas uma atitude ou a vontade. “Estudos vêm mostrando a importância do apoio de amigos, e amigos não fumantes, além do apoio da própria família. A pessoa também vai necessitar do apoio de consultórios médicos e do próprio Sistema Único de Saúde (SUS), que fornece esse suporte”, indica.

Tanto na rede pública quanto na rede privada há iniciativas que reúnem equipes multidisciplinares, com médicos, psicólogos e outros profissionais da saúde, para atender o tabagista. Torna-se essencial a participação dele em reuniões de grupo e outras interações, em períodos que duram até um ano. São etapas para acompanhar a evolução no largar o cigarro. E, neste processo, também pode ser realizado um tratamento medicamentoso. Isto não é necessariamente aplicado em todos os casos.

“Esta é uma abordagem intensiva, mas existe a abordagem mínima breve, que também é essencial. Às vezes, a mulher fala sobre deixar o cigarro, mas o marido não dá atenção. Se ele vai ao dermatologista, por exemplo, e este percebe que o paciente fuma, pode fazer uma abordagem. São três minutos de conversa, mas que deixa o assunto martelando na cabeça no tabagista”, aconselha.

A coordenadora da área de promoção de saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, Elaine Cristina Vieira de Oliveira, explica que o programa de cessação do tabagismo está disponível pela rede do SUS. Para ela, o acesso fácil a esse tipo de atendimento foi um dos motivos para a redução de 38% na prevalência de tabagistas no país nos últimos 14 anos, de acordo com dados do Vigitel – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, promovido pelo Ministério da Saúde. 

“O programa de controle de tabagismo, instituído nacionalmente, claramente foi uma das principais iniciativas que gerou redução dessa prevalência. Fornece o tratamento de forma gratuita, não necessariamente medicamentoso, mas um tratamento estruturado, com equipe multiprofissional, pelo SUS. E este é um programa com boa adesão pelos municípios”, enfatiza.

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p class=”ql-align-center”>Mudanças no estilo de vida e em hábitos, como deixar de tomar café, ajudam no processo e a evitar recaídas (Foto: Pixabay)

Recaída – a importância do apoio para quem quer deixar de fumar

O médico pneumologista Jonatas Reichert lembra que o tabagismo é uma dependência, uma doença. Por isso, cada pessoa responde de um jeito. Alguns fumantes conseguem largar logo o cigarro; outros enfrentam um processo mais longo e com a necessidade de medicamentos. E dentro de todo esse contexto as recaídas estão previstas.

“O que digo para esses pacientes é que as recaídas são previstas e para que não desistam. Há aqueles que sofrem a recaída e a esconde por vergonha. Mas é preciso encarar pelo fato de estar tratando um problema clínico, e que sabemos que não é fácil. É necessário trabalhar psicologicamente essa recaída para mostrar que não representa uma fraqueza pessoal, mas sim em função de milhares de toxinas. A pessoa não é culpada por isso”, afirma.

O médico conta que já tratou de pacientes com um nível de dependência intenso, que recaíram cinco, seis vezes, até conseguirem parar de vez com o cigarro.

A recaída está prevista, mas não deve servir de desestímulo. O apoio para quem quer deixar de fumar é importante neste momento, pois o fumante precisa descobrir outras formas de prazer, de aliviar o estresse e até mesmo de conduzir determinados hábitos e rotinas sociais.

Reichert reforça a importância de mudar o estilo de vida. “Você não pode parar de fumar se continua tomando vodka, cerveja, vinho, toda hora. Isso atrai, está condicionado ao fumar. Não pode acordar de manhã, para tomar café e fumar um cigarro. Quando vai trabalhar e tem algum intervalo, toma um café e já leva a um cigarro ou a um chá mais forte. A cafeína nesses produtos entram em informação cerebral cruzada com os receptores da nicotina”, explica.

Por isso, quem está no processo de deixar de fumar também precisa abolir o cafezinho, o chá, o chimarrão, por exemplo. Deve evitar comer carne; se comê-la, deve ser bem passada ou cozida. A alimentação deve ser a mais natural possível, juntamente com uma boa ingestão de água, que ajuda a eliminar as toxinas. O médico ainda recomenda bastante exercício físico, alternado com o devido repouso, e banhos de sol, nos momentos indicados ao longo do dia.

“Essas medidas, com mudanças no estilo de vida, o aconselhamento breve, a participação em grupos e o apoio multidisciplinar, ajudam muito. Não deve-se ter medo da recaída: enfrente, sem medo do julgamento”, orienta Reichert.

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Serviço

Programa Você Sem Cigarro, da Unimed Curitiba

Para participar, os beneficiários devem inscrever-se pelo telefone (41) 3021-4735 ou pelo e-mail pse@unimedcuritiba.com.br. A próxima turma terá início no dia 17 de junho.

Atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS)

O Paraná participa de ações para o controle do tabaco e atualmente possui 860 estabelecimentos que ofertam o Programa de Cessação do Tabagismo. Quem quiser participar deve procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima de casa e buscar informações do programa em sua cidade ou região.

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